quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte IV: Destino Ubatuba

Começamos a subir uma rampa de cimento, eu sabia que era aquela a entrada para casa do Pax, mas não sabia o quanto precisávamos subir para chegar lá. A rampa logo virou uma escadaria, depois rampa novamente, depois escadaria e assim subíamos e subíamos...

- Cara, será que era por aqui mesmo Dênis?

- É sim, ele disse que era uma das últimas casas.

- Cara, a gente não para de subir nunca!

- É, já tô cansadão. Quer voltar e ir direto para Fortaleza?

- Não, não. Já tamo aqui, não deve estar tão longe.

- A Mari – a namorada do Pax - me disse que ia deixar uma vela acesa na porta, pra sinalizar a casa deles.

Já estávamos exaustos quando vi um pequeno brilho de luz num dos degraus da escada. Não, não era a vela da Mari, era...

- Léo, olha isso que incrível!

- Que isso?

- Léo, é uma lagarta luminosa!

- Incrível! Olha as cores, verde limão e laranja.

- É uma lagarta psicodélica!

- Será que estamos delirando? O que tinha na sua garrafa hein? Ahahaha!

- Sei lá. Só sei que precisamos achar a casa do Pax.

- Pergunta pra Lagarta, ela já deve ter visto o Pax por aqui.


- Ótima idéia! Uma Lagarta, assim tão descolada, deve saber de tudo que se passa por estas escadarias. Com licença dona Lagarta, eu e meu amigo aqui, estamos procurando um outro amigo. Ele se chama Pax e alugou uma casa de temporada no alto deste morro, mas não conseguimos ainda encontrar.

A Lagarta nos fitou admirada, afinal não é todo dia que humanos puxam conversa com lagartas. Então com sua antena apontou em direção aos céus e disse.

- É por ali! Mas as escadas não vão ajudar vocês.

- Ih Dênis, essa Lagarta tá viajando, acho que ela entendeu que estamos procurando a Paz e não o Pax. Que Lagarta mais burra!

- Não fale assim, ela pode se ofender. Sabe-se lá como uma Lagarta enfurecida pode reagir a insultos.

- É, tem razão. Desculpe-me dona Lagarta Psico, acontece que já estamos exautos de tanto subir e... Ei, ei, ei! Olha ali Dênis, uma luz. É uma casa! Será que não é aquela?

O Léo apontou em direção a uma casa há poucos metros de onde estávamos.

- Pode ser. Vamos chamar pelo Pax.

E nós dois, gritamos em uníssono:

- Pax! Paaaaax! Paaax!

A Lagarta balançou a cabeça com desdém, como se dissesse “nã-nã-nã-não!”. E nós começamos a andar em direção a tal casa. Sem perceber, ao primeiro passo, acidentalmente o Léo pisa na Lagarta, esmagando-a. Como um tubo de tinta, de seu corpo saiu uma gosma colorida fosforescente. Eca, que coisa nojenta!

- Ai, Dênis! Maldito Ano Novo! Eu matei a Lagarta Psico!

- Caramba! Vamos logo, deixa isso pra lá. Ela era apenas uma Lagarta Psicodélica falante. Vamos logo encontrar o Pax, antes de nos encrencarmos mais. Será que é esta casa mesmo?

E mais uma vez, gritamos em uníssono:

- Pax! Paaaaax! Paaax!

Porém ninguém respondeu, devia ser mais acima. Largamos o corpo da lagarta esmagado na escadaria e continuamos subindo, já ignorando o fato ocorrido. Subíamos sempre gritando o nome do Pax, repetidas vezes e intercalando com gargalhadas, pois parecia que nosso chamado era inútil.

- Paaaaaax! Ô Pax!

Mais alguns goles em nossas garrafas e algumas galgadas acima, finalmente ouvimos a voz de Pax. Nunca a voz do Pax me pareceu tão reconfortante:

- Hei! É aqui!

Enfim conseguimos encontrar a casa do Pax.


- Foi o filho do Paulo quem escutou vocês chamarem. Disse que parecia que tinha alguém gritando meu nome. Mas acho que ele é meio maluquinho, ouve vozes. Outro dia disse que conversou com uma lagarta na escadaria. Ahahah! Pode? De qualquer forma, dei um pouco de crédito pra ele agora, sabia que vocês viriam. Se não fosse ele ninguém aqui tinha ouvido nada!

Eu e Léo nos olhamos, e concordamos em não tocar mais no assunto da Lagarta.

- Éramos nós mesmos, Pax. Respondi. Olha, nós viemos aqui só pra te desejar um Maldito Ano Novo!

Entramos na casa e ficamos, por um bom tempo, sentados na varanda apreciando a vista maravilhosa. Tomamos algumas doses da Boazinha e fizemos duas caipirinhas para refrescar.

Explicamos a teoria do “Maldito Ano Novo” - a qual foi aprovada pelo Pax. E, quando questionamos qual era a validade do Feliz Ano Novo, o Pax nos deu a melhor resposta que poderíamos encontrar:

- Ora, o prazo de validade do “Feliz Ano Novo” termina junto com a queima os fogos!

- Elementar meu caro Pax! Comentava Léo, diante da brilhante resposta.

Encerramos nossa visita depois de esvaziar três quartos da Boazinha. E nos preparamos para descer a ladeira em busca dos festejos na areia da praia Fortaleza.

- Vamos Léo, é só descer a ladeira e ir atrás do som desta música que não para de tocar lá na praia.

- É, acho que ainda deve estar rolando algum show por lá. Vamos nessa!

A descida foi mais tranqüila, sem larvas ou insetos psicodélicos falantes. O Pax nos emprestou uma lanterna e o caminho clareou para nós. Para nós e para um casal que pensou que, naquela ladeira escura, ninguém passaria para atrapalhar o caloroso namoro em frente ao portão de uma casa. Ao perceberem nossa lanterna e a algazarra que fazíamos - pois até para descer a ladeira gritávamos o nome do Pax - a moça fechou os botões de sua blusa, enquanto o rapaz abotoava as calças, e entraram na casa em que estavam em frente. Nós continuamos a descer a ladeira; rumo à praia, em busca de alguma grande festa psicodélica de reveillon.

Continua…

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