domingo, 10 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte V: Destino Ubatuba


Queríamos encontrar a origem daquela música que escutávamos lá da casa do Pax. Chegamos à praia e caminhamos alguns metros até uma clareira, onde havia um bar. Era o bar de dona Palmira, ela era dona de quase todas as casas e barraquinhas de praia daquela região. Ali estava rolando uma pequena balada. Em frente ao bar havia alguns caiçaras e uma molecada escutando um pagode que tocava muito alto. A música (se é que aquilo pede ser chamado de música) vinha de um super-equipamento de som de um carro com o capô levantado.

- Dênis, será que vem daqui o som “ao-vivo” que a gente tava escutando lá de cima?

- Ih Léo, não é que deve ser daqui mesmo! Respondi.

- Caraca! Será que não tem nenhuma outra festa rolando nesta praia?

Olhei ao redor e notei que ao lado do bar estava rolando uma grande festa numa casa enorme. Era um casarão de praia muito bonito e moderno, com uma bela piscina, era uma destas casas “com vista para o mar” de ricaços.

- Puxa, tem uma festa rolando aqui do lado, mas acho que não fomos convidados...

- Nossa! Que casa linda é essa? E tá rolando uma festa de granfino aí!

Sabem aquela vontade de fazer o ano novo ser diferente dos demais e aprontar alguma peraltice? Então, foi aí que o Léo me olhou mal intencionado por debaixo das lentes seus óculos e me perguntou:

- Vamos entrar de bicão?

- Ehehehe! Seria engraçado.

- Tô falando sério.

- Sério? ... E por que não? Mas o que a gente fala quando chegarmos lá?

- A gente começa com um: “Opa! Beleza!”. Depois vê o que acontece.

O plano era insosso e fadado ao fracasso, mas não sei por que cargas d’água achei a estratégia magnífica.

- Tá bom, então vamos. Mas vai você na frente!

Lá fomos nós, levando em punhos, as nossas garrafas de champanhe quase vazias. Entramos naquela casa pelo portão que dava acesso à praia, do portão até a piscina, onde estava rolando a festa, havia um gramadão e a passagem estava iluminada por tochas. Tudo muito suntuoso.

Percebíamos alguns olhares, vindos do arredores da piscina, acompanhavam nossa aproximação. Quando chegamos bem à beira da piscina, um senhor barrigudo e careca veio verificar o que estávamos fazendo. Logo em seguida um veio um garoto, de uns dezesseis ou dezessete anos e muito malhado, para dar cobertura ao, que parecia ser, seu avô.

- Opa! Beleza? Iniciou a conversa exatamente como tínhamos combinado anteriormente, o destemido e franzino Léo.

- Pois não? Indagou o velho com a guarda levantada.

- Amigo, a gente tava olhando a casa lá de fora e... Por acaso é esta a casa que foi projetada pelo Niemeyer?


Por incrível que pareça, o velho baixou guarda, abriu um sorriso e se transformou em um velho simpático e bonachão, assim como seu neto que, passou de Leão de Chácra para um dócil Labrador, e o velho disse:

- Não, não é esta não. Mas eu sei de que casa está falando, ela fica lá no fim da praia. Mas olha, vou te contar, não é obra do Niemeyer não. O povo daqui fala que é, mas não é. Eu conheço lá. É verdade que lembra um pouco sua arquitetura...

- Pois então, de qualquer modo, a arquitetura da sua casa é muito bonita. Toda aberta e suspensa. Nossa! E aquela escada central então – é admirável a cara-de-pau do meu amigo e como ele embromava o velho com essa história. Quanto a mim, eu só ficava observando e concordando, fazendo muito esforço pra não rir.

- Mas, vocês são estudantes de arquitetura é? Perguntou o bom velhinho.

- Nã-não! Quer dizer... é que trabalho com alguns desenhos – só Deus sabe o que o Léo quis dizer com isso.

- Ah, sei! Bom, se vocês...

Nesta hora, em que o bom velhinho parecia que já ia nos convidar para a festa, aparece um outro senhor, que vinha a passos firmes e duros em nossa direção. Este senhor era mais sisudo e imponente. Era versão idêntica do bom velhinho, só que magro. Ele chegou e interrompeu a conversa sem a menor cerimônia:

- Sinto muito, mas esta festa aqui é particular. O portão é logo ali.

Entendendo o recado ríspido e que não esperava resposta alguma, nos despedimos amigavelmente do velho bonachão e de seu neto. Estes nos estenderam as mãos e nos desejaram um feliz 2008. O outro senhor manteve-se um pouco distante e nem se esforçou em fazer o mesmo gesto. Quando estávamos saindo, deu pra escutar o bonachão dizendo ao sisudo:

- Eles são estudantes de arquitetura...

E assim que saímos o rapaz forte fechou o portão da casa muito discretamente.

- É Léo, parece que fracassamos na missão “bicão de festa”.

- Ah, se não fosse aquele velho sisudo... Os outros dois já estavam no papo! Estávamos quase lá, bebendo de graça e comendo caviar.

- Pois é. Que pena!

E juntos repetimos a nossa máxima do reveillon:

- Maldito Ano Novo! Ahahahahah!

Continua...

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