terça-feira, 18 de setembro de 2007

Crônica de sangue!

Como viram, meus amigos ficam à vontade para defecar em meu apê, então eu também me sinto à vontade para conversar com eles sobre certos assuntos íntimos e desagradáveis. No intervalo de uma reunião de trabalho, logo que a Manu saiu do banheiro, reclamei com ela, pela milésima vez, sobre... sobre um desconforto que tenho já há algum tempo:

- Sabe quem voltou? E que eu encontrei lá no banheiro de casa?... Minhas hemorróidas! Voltaram, não sei mais o que fazer!

- Crêdo Dênis, essa sua hemorróida já deve ser CRÔNICA!

Crônica, essas palavra passou a me perseguir desde então. Arregalei meus olhos com aquela expressão de "como assim?" e a Manu, entendendo a pergunta estampada na minha cara respondeu:

- É, CRÔNICA, uai! Você já reclama disso há tanto tempo que já virou CRÔNICA.

Mesmo assim não entendi o quê isso significava. CRÔNICA? A última vez que tinha ouvido esta palavra, foi quando minha tia Bernadete leu meu blogue e depois veio comentar comigo:

- Ah, li seu bogue. Gostei das CRÔNICAS!

De cara, achei que se tratava de um elogio. Mas se houver alguma relação com as minhas hemorróidas CRÔNICAS, minha tia pode ter feito crítica muito irônica e arrasadora!

Fui evacuar e levei o Aurélio comigo. Entre um esforço e outro... lá estava: "Crônica sf. 1. Narração histórica, por ordem cronológica. 2. Pequeno conto, de enredo indeterminado. 3. Vida de alguém." , parece que as três explicações se referem ao que tenho escrito. Engraçado, pode parecer neurose minha, mas não é que enxergo alguma relação direta com as minhas hemorróidas: "Pequeno conto, de enredo indeterminado"! Sem dúvida tem relação com as minhas hemorróidas. Continuei no dicionário e logo abaixo vinha: "Crônico adj. 1.Que dura há muito. 2.Persistente, inveterado. 3. De longa duração (doença)". Se não fosse pela explicitação entre os parenteses do item 3, já estava achando que minha tia queria dizer que escrevo textos longos demais. Será?

Apertei a descarga, me limpei e vi aquela mancha vermelha no meio da sujeira do papel higiênico. Foi olhando para aquela mancha escatológica, que uma dúvida passou a me atormentar: seria caso para uma cirurgia ou será que uma pomadinha resolveria?

É estranho que, quando expomos uma coisa assim tão intima e constrangedora, outras pessoas que também passam por sofrimento similar, acabam se revelando e tornam solidários. O Alex, que trabalha comigo, ouviu a história e logo veio dar seu testemunho consolador:

- Eu precisei fazer cirurgia, fiquei mais de mês sem poder sentar! É uma dor horrível! Você precisa ir ao médico.

- Qual médico?

A resposta não veio, niguém sabe ao certo qual o especialista desta região. Seria um proctologista, um hendócrino, um gastro, um vascular? Ai, morro de vergonha só de imagnar a consulta, o exame, arrrrgh!!

Resolvi pesquisar no google. Vi que as hemorróidas podem ser hereditárias - ah, não vou culpar meus pais por mais esse trauma em minha vida, muito menos expor suas intimidades, já basta expor as minhas. Descobri, também no google, que ler no momento da evacuação não é bom. Fiquei cismado com esta informação, será que qualquer leitura prejudica as hemorróidas? Ou será que que só as revistas semanais? Tenho observado que elas ficam mais agudas quando leio algo mais complexo como, quando lia o Zaratrustra, do Nietzsche - só de soletrar o nome dele, as maleditas, já ficavam a flor da pele. O pior foi, quando, durante o ato fatídico, cai na besteira de ler a obra ao som de "Also sprach Zarathustra" do Strauss... meus olhos quase lacrimejaram sangue!

O google aponta como especialista o proctologista. Também faz uma revelação surpreendente: cerca de 60% da população, sofre, sofreu ou sofrerá deste desconforto. Poucos escaparão! Portanto não riam da minha situção, pois um dia é muito provável que você se torne mais uma vítima.

Então, fui até a farmácia para comprar uma pomadinha que minha mãe recomendou. Mas, chegando lá, não me lembrava do nome da pomada. No balcão havia dois atendendes, um estava desocupado e o outro atendia uma mocinha muito linda e simpática. Eu fiquei disfarçando olhando as plateleiras de vitaminas ao lado, até que a mocinha ir embora. Quando ela foi embora, fui até o balconista e pedi, com aquela voz embargada pelo constrangimento, a tal da pomadinha:

- Por favor, você tem alguma pomada para... para hemorróida?

Gente, o balconista era surdo! Usava um aparelho no ouvido.

- Pomada pra quê?

Uma freira surgiu derepente, logo atrás de mim escolhendo vitaminas na outra prateleira. Eu precisava da tal pomada.

- É, eu quero uma pomada para...

O outro balconista que etava ao lado, gentilmente me ajudou na comunicação e disse bem alto no ouvido do colega:

- É a ultraprocto, aquela pomada para hemorróida.

Prontamente atendido, olhei para traz e a freira ainda não tinha escolhido a vitamina que iria levar. O balconista volta com a caixinha e me explica como usar a medicação:

- É pra uso externo, viu? Ela vem com uma cânula furadinha dos lados. Vê aqui na bula, você primeiro passa em volta do anel e depois introduz a cânula no...

Acho que ele iria falar rabo! Tenho certeza, ou algo pior! Minha reputação estava acabada! Interrompi o atendente antes dele terminar a imprudente frase:

- Ótimo, quanto é?

Eu já suava frio, queria sair dali o mais rápido possível, desaparecer. Peguei a caixinha e fui correndo ao caixa. Logo atrás de mim, a freirinha. Ela também parecia emcabulada, talvez por respeitar a minha condição. Paguei ao caixa e fui saindo sem pegar o troco. Ao perceber, voltei ao caixa, a freira estava passando suas vitaminas e, entre elas... uma caixinha de ultraprocto! Nos olhamos, trocamos aquele sorriso amarelo, peguei meu troco e fui correndo pra casa.

(...) Alguns dias depois... a CRÔNICA, ainda não acabou. A pomada não funcionou. E olha, que segui direitinho a orientação da bula! ARRRRGH!

Dênis Goyos

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sente-se e fique à vontade!

O meu cantinho predileto para ler, estudar, distrair e me atualizar, é sentado na privada aqui de casa. Apesar da máquina de lavar roupas ficar bem ao lado da privada, todos meus amigos, freqüentadores do ap.4, já passaram instantes tranqüilos e reconfortantes sentados ali.

Parece incrível, muitos diriam que é difícil usar o vaso alheio, mas aqui em casa é comum. Até os mais tímidos ficam à vontade para deixar seu material fecal ali. O Gabriel, por exemplo, é um dos maiores usuários, basta ele comparecer ao fim da tarde em casa e... batata:

- E aí Dênis, beleza?... Peraí, preciso dar um cagão! Tem uma revista aí?

Desculpem-me, mas é esse o linguajar que meu nobre amigo, que carrega sete sobrenomes de famílias respeitadíssimas, usa. Se o Gabriel já sentou neste vaso, várias vezes, naturalmente que sua namorada, a Manu, também se sentiu confiante o suficiente para ali defecar. Mas, a pessoa que mais me surpreendeu foi a Nathalia, que apesar de sua delicadeza, vocabulário bonito e uso sempre correto da gramática, deixou um rastro gasoso que demorou algumas horas para se dissipar. Rastro que se alastrou pelo apartamento inteiro.

- Dêco (é assim que ela me chama), desculpe-me, acho que ingeri alguma substância alimentícia que provocou este desconfortável odor em sua latrina.

Não de posso deixar de mencionar um caso de emergência. A Janete, quando voltávamos juntos do trabalho, pediu desesperadamente para parar em casa e usar o banheiro.

- Dê (é assim que ela me chama), posso parar um pouquinho na sua casa, acho que eu não vou conseguir chegar na minha à tempo.

- À tempo de quê?

Logo entendi o pedido desesperado. Alguns dias depois, já era possível respirar em casa sem o artifício do desodorizador de ar.

Eu poderia ficar aqui só nomeando as pessoas que ali sentaram, como a Paula, o Alê, o Alex, o Allan, o Fernando, a Tatiana, a Marina Waiwdstein, o José Roberto, o Bruno (este último é um caso á parte, depois contarei sobre o período em que ficou hospedado em casa e os kiwis que esquecia de mandar água abaixo, isso quando não entupia tudo) entre outros, que se não fazem na entrada, fazem na saída! Até agora, ainda não entendi, se a passagem deles em meu banheiro, é um sinal de confiança ou um sinal que meu apartamento é um verdadeiro purgante.
Alguém me recomenda alguma leitura? Está chegando a minha hora. Ops! Tchau!
Dênis Goyos

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Faxina por engano

Antes de eu me mudar para o ap4, eu morava como minha irmã e meu cunhado num apartamento grandão, com duas vagas na garagem, dois elevadores, portaria, jardim, salão de festa etc, etc, etc.
Numa destas belas manhãs de verão, eu dormia até tarde pois na noite anterior, aproveitei que minha irmã e meu cunhado não estavam e convidei alguns amigos para bebericar umas cervejas e refrescar a noite. Pela manhã a casa dormia, com aquela pequena desordem largada pelos visitantes da noite anterior. Levanto lá pelas 10:30 e vou até a cozinha, preparar meu cafezinho matinal em minha cafeteira italiana, quando percebo um movimento estranho na área de serviço. Fiquei um pouco apreensivo, havia alguém ali. Aproximei-me devagar e... lá estava! De costas, passando uma montanha de roupas - que alívio, não era um ladrão e não precisarei mais sair de camisa amassada por aí. Mas espere, pensei em voz baixa: "a faxineira só vem uma vez a cada 15 dias, além do mais ela é baixinha, gordinha e já tem idade avançada!"
Concluí: "Tem alguma coisa errada."
Logo percebi que minha cozinha estava completamente arrumada, todos os copos abandonados com restos de cerveja da noitada, já estavam limpos, secos e devidamente guardados. E mais, a sala estava limpa, sem nenhum resquício do que acontecera na última noite. "Tem alguma coisa errada!" pensei novamente (novamente, pois nestas manhãs o cérebro, já nauseado pelo teor de álcool, costuma ser mais lento que o costume).
Finalmente tomei a iniciativa e disse:
- Moça! Moça...
Ela leva um pequeno susto ao me ver.
- Oi! (ela me cumprimenta timidamente)
- Você é?...
- Ai, você deve ser o sobrinho da Dona Tereza, vi que o quarto tava fechado e não quis fazê muito barulho.
De fato ela trabalhou silenciosamente, não escutei nada enquanto ela limpava a casa. Mas espere aí, ela disse dona Tereza?
- Você disse dona Tereza? Aqui não mora nenhuma Tereza!
- É sim. Você não é sobrinho dela? Quer dizer... (aos poucos, muito aos poucos, ela vai se dando conta da confusão) Eu tava grávida ano passado e parei de vir... Agora que o nenê tá grande, combinei com Dona Tereza de voltar hoje...
- Mas aqui não é casa da Tere...
Ela tentava explicar para ela mesma, e ia ficando cada vez mais sem jeito, nervosa...
- Achei mesmo que a dona tereza tinha mudado os móveis, o piso... ela tirou os carpetes né?
- Calma você não está entenden...
- Cadê o cachorro? Abri a porta com cuidado pra ele não latir! .. Ai meu Deus!
- Como você entrou?
- Com a chave!
Ela me aponta a chave que usou para abrir a porta da cozinha. Vou até a porta para conferir. Incrível, ela tinha a chave de casa!
- Ai meu Deus, eu falei com o moço crente da portaria, um que tava lendo bíblia, perguntei se a dona tava aí. Ele disse que não, que eu podia subir.
Nesta altura do campeonato, a moça já esta va aos prantos e eu com uma enxaqueca danada não conseguia interromper o desespero que ia tomando conta dela.
- Aqui não é o sétimo andar?
- Calma, aqui é o quarto andar!
- Dona Tereza vai me matar!
- Qual seu nome?
- (aos prantos) Ela vai ficar muito brava comigo!
- Calma, eu converso com ela. Qual seu nome?
- Desirrêhhh.
- Você sabe qual é o número do apartamento da dona Tereza?
- (soluçando) achei que era aqui!
- Mas não é. Calma, você disse sétimo andar não é? Vamos lá, eu vou com você.
- Mas e se não for lá?
- No sétimo só tem dois apartamentos, agente aperta a campainha e vê. Toma uma água.
Após acalmar um pouco a Desirrê, subimos para o sétimo andar. Aperto a campainha e... nada. Ninguém responde. Achave não funcionava nesta fechadura. Tentamos o outro apartamento, aperto a campainha e... atende a porta uma senhorinha, que abre a porta com a correntinha de pega ladrão.
- Pois não?
- Aqui é a casa da Dona tereza? (pergunto eu, afinal Desirrê, já não tinha mais condições de falar)
- Quem?
- Tereza.
- Não, não. Não conheço Tereza alguma.
Voltamos para o meu apartamento. Finalmente tive a Brilhante idéia de interfonar ao porteiro:
- Oi seu Antônio, tudo bem? Olha, o senhor sabe qual é o apartamento da dona Tereza?
- É o no nono, por quê?
- É que a faxineira dela tá perdida, veio no meu apartamento, abriu minha porta com chave dela. Agora não sabe qual é o apartamento da Tereza.
- Ah, foi uma moça magrinha com cara de crente, que subiu aí?
- Isso.
- Mas é burra mesmo, não!
- Pois então seu Antônio, sabe qual o número do apartamento que ela tem que ir?
- Não sei, só sei que ó no nono.
- Tá bom, obrigado.
Lá fomos nós, eu a Desirrê, que ainda chorava e se lamentava.
- Como aconteceu isso? Achei que você fosse o sobrinho dela, que vinha de vez enquando. Ela não vai me querer mais...
- Calma, é no nono.
Chegando no nono andar logo ouvimos os latidos de um cãozinho invocado, atrás da porta do ap. 91.
- Desirrê, reconhece o latido?
Ainda confusa, mas num suspiro de alívio ela diz:
- Sim, é o da dona Tereza!

Dênis Goyos