
Numa destas belas manhãs de verão, eu dormia até tarde pois na noite anterior, aproveitei que minha irmã e meu cunhado não estavam e convidei alguns amigos para bebericar umas cervejas e refrescar a noite. Pela manhã a casa dormia, com aquela pequena desordem largada pelos visitantes da noite anterior. Levanto lá pelas 10:30 e vou até a cozinha, preparar meu cafezinho matinal em minha cafeteira italiana, quando percebo um movimento estranho na área de serviço. Fiquei um pouco apreensivo, havia alguém ali. Aproximei-me devagar e... lá estava! De costas, passando uma montanha de roupas - que alívio, não era um ladrão e não precisarei mais sair de camisa amassada por aí. Mas espere, pensei em voz baixa: "a faxineira só vem uma vez a cada 15 dias, além do mais ela é baixinha, gordinha e já tem idade avançada!"
Concluí: "Tem alguma coisa errada."
Logo percebi que minha cozinha estava completamente arrumada, todos os copos abandonados com restos de cerveja da noitada, já estavam limpos, secos e devidamente guardados. E mais, a sala estava limpa, sem nenhum resquício do que acontecera na última noite. "Tem alguma coisa errada!" pensei novamente (novamente, pois nestas manhãs o cérebro, já nauseado pelo teor de álcool, costuma ser mais lento que o costume).
Finalmente tomei a iniciativa e disse:
- Moça! Moça...
Ela leva um pequeno susto ao me ver.
- Oi! (ela me cumprimenta timidamente)
- Você é?...
- Ai, você deve ser o sobrinho da Dona Tereza, vi que o quarto tava fechado e não quis fazê muito barulho.
De fato ela trabalhou silenciosamente, não escutei nada enquanto ela limpava a casa. Mas espere aí, ela disse dona Tereza?
- Você disse dona Tereza? Aqui não mora nenhuma Tereza!
- É sim. Você não é sobrinho dela? Quer dizer... (aos poucos, muito aos poucos, ela vai se dando conta da confusão) Eu tava grávida ano passado e parei de vir... Agora que o nenê tá grande, combinei com Dona Tereza de voltar hoje...
- Mas aqui não é casa da Tere...
Ela tentava explicar para ela mesma, e ia ficando cada vez mais sem jeito, nervosa...
- Achei mesmo que a dona tereza tinha mudado os móveis, o piso... ela tirou os carpetes né?
- Calma você não está entenden...
- Cadê o cachorro? Abri a porta com cuidado pra ele não latir! .. Ai meu Deus!
- Como você entrou?
- Com a chave!
Ela me aponta a chave que usou para abrir a porta da cozinha. Vou até a porta para conferir. Incrível, ela tinha a chave de casa!
- Ai meu Deus, eu falei com o moço crente da portaria, um que tava lendo bíblia, perguntei se a dona tava aí. Ele disse que não, que eu podia subir.
Nesta altura do campeonato, a moça já esta va aos prantos e eu com uma enxaqueca danada não conseguia interromper o desespero que ia tomando conta dela.
- Aqui não é o sétimo andar?
- Calma, aqui é o quarto andar!
- Dona Tereza vai me matar!
- Qual seu nome?
- (aos prantos) Ela vai ficar muito brava comigo!
- Calma, eu converso com ela. Qual seu nome?
- Desirrêhhh.
- Você sabe qual é o número do apartamento da dona Tereza?
- (soluçando) achei que era aqui!
- Mas não é. Calma, você disse sétimo andar não é? Vamos lá, eu vou com você.
- Mas e se não for lá?
- No sétimo só tem dois apartamentos, agente aperta a campainha e vê. Toma uma água.
Após acalmar um pouco a Desirrê, subimos para o sétimo andar. Aperto a campainha e... nada. Ninguém responde. Achave não funcionava nesta fechadura. Tentamos o outro apartamento, aperto a campainha e... atende a porta uma senhorinha, que abre a porta com a correntinha de pega ladrão.
- Pois não?
- Aqui é a casa da Dona tereza? (pergunto eu, afinal Desirrê, já não tinha mais condições de falar)
- Quem?
- Tereza.
- Não, não. Não conheço Tereza alguma.
Voltamos para o meu apartamento. Finalmente tive a Brilhante idéia de interfonar ao porteiro:
- Oi seu Antônio, tudo bem? Olha, o senhor sabe qual é o apartamento da dona Tereza?
- É o no nono, por quê?
- É que a faxineira dela tá perdida, veio no meu apartamento, abriu minha porta com chave dela. Agora não sabe qual é o apartamento da Tereza.

- Ah, foi uma moça magrinha com cara de crente, que subiu aí?
- Isso.
- Mas é burra mesmo, não!
- Pois então seu Antônio, sabe qual o número do apartamento que ela tem que ir?
- Não sei, só sei que ó no nono.
- Tá bom, obrigado.
Lá fomos nós, eu a Desirrê, que ainda chorava e se lamentava.
- Como aconteceu isso? Achei que você fosse o sobrinho dela, que vinha de vez enquando. Ela não vai me querer mais...
- Calma, é no nono.
Chegando no nono andar logo ouvimos os latidos de um cãozinho invocado, atrás da porta do ap. 91.
- Desirrê, reconhece o latido?
Ainda confusa, mas num suspiro de alívio ela diz:
- Sim, é o da dona Tereza!
Dênis Goyos
5 comentários:
Mo Deuso!
Pergunta 1: Depois dessa vc contratou a Desirrê, certo?
Pergunta 2: o porteiro deu a chave errada, certo?
Resposta 1: Não contratei a moça. Nunca mais eu a vi. Talvez dona Tereza realmente tenha matado a coitadinha!
Resposta 2: Não, ela tinha uma chave que abria o meu apartamento e o apartamento da Tereza.
Não creio, impossível.
Será que você é a Dona Tereza?
Pensando bem, isso pode ser útil. Imagine um dia em que acaba o papel higiênico. Você nem precisa berrar para a Dona Tereza, é só ir até a casa dela, com as calças abaixadas e pegar papel higiênico emprestado.
eu ia esperar passar toda a montanha de roupa (que é a coisa que eu mais DETESTO na vida), depois eu desmentia. hohoho
:o)
Tadinha...
Postar um comentário