quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte VIII: Destino Ubatuba

No meio do caminho tinha um banco, tinha um banco no meio do caminho... Era um banco rústico, de madeira, firme, pesado, que encantou os olhos de meu amigo:
- Olha Dênis, que banco maravilhoso!
- É realmente, um belo banco de madeira.
- Meu! Eu preciso deste banco, me ajuda levar até a casa...
Detalhe: a casa ficava a uns 700m da praia de Fortaleza; o caminho de volta pra casa, era por uma estrada cheia de curvas e sobe-e-desce. Outro porém: nós estávamos embriagados, carregando, cada um de nós, um copo de caipirinha em uma mão e, na outra, uma garrafa vazia de champanhe. Mas não foi isto que argumentei:

- Léo, cê tá louco? O ano mal começou e já vamos cometer um delito? Você está propondo assaltar este banco?
- Parceiro, isto poderá entrar pra história...
- Claro! Eis a história: “turistas são presos por assaltar um banco na noite de reveillon”!
- Isto! Imagine nossa foto estampada nos jornais, entrevistas... depois viraremos tema de livros, filmes; seremos celebridades! O nosso assalto será mais famoso que o assalto do trem Pagador! Brother, chega de passar as noites de reveillon sempre “certinho”. Tá na hora de fazer algo novo, tá na hora de transgredir as regras que nos aprisionam.
- “Transgredir regras” é que nos “aprisionam”!
- Camarada, ou você está comigo ou - em tom dramático - terei de fazer isso sozinho!
- Tá bom, tá bom! Não vou abandonar você agora. Mas pare com esta chantagem emocional. Vamos lá... Como vamos carregar isso? Ainda não terminei minha caipirinha e não vou jogar fora minha garrafa da Jeanne!
- A gente dá um jeito, meu irmão. Com uma mão carrega o banco, e com a outra a garrafa e a caipirinha.
Assim fizemos por uns vinte metros, o banco era muito pesado. Decidimos parar e descansar um pouco.

Paramos em frente a uma casa onde ainda rolava mais uma festa de reveillon e algumas pessoas entravam e saiam pelo portão de madeira.

- Olha aí amigo, mais uma festa. Pode ser nossa última chance, vamos tentar entrar?
- Não! Não Léo, já chega desta história de invadir festas que nunca darão em nada. Vamos é acabar com as nossas caipirinhas e seguir viagem!
- Ehehhe! Tava brincando! Então que tal um brinde?
- Isso sim! O triste é brindar nesses copinhos de plástico, ehehe!
- Pra isso tenho uma boa solução: é só transferir o conteúdo deste copinho para as nossas garrafas! - desta maneira brindamos ao nosso Maldito Ano Novo!

Ficamos um bom tempo sentados naquele banco onde divagamos sobre a vida; assistimos as pessoas que entravam e saiam daquela casa; falamos bobagens; devaneamos; conjecturamos; decidimos fundar um grupo de pesquisa teatral e nos tornamos melhores amigos - aquele velho e tradicional papo de bêbado:
- Dênis, de hoje em diante, você é o meu melhor amigo!
- Um brinde ao melhor amigo de 2008! Eheheh! Tenho uma idéia Léo; agora que nos tornamos melhores amigos, dou-lhe esta garrafa de presente.
- A garrafa do gênio!
- Ela simboliza nossa amizade. Enquanto ela estiver inteira, nossa amizade existirá. Se ela se quebrar... Por isso cuide bem dela.
- Cuidarei muito bem dela, meu melhor amigo! Mas ainda temos que carregar este banco.

Nesta hora, um dos caiçaras que protagonizou aquela briga no bar de Dona Palmira, estava passando, veio até nós e disse em tom ameaçador:

- Depois coloquem o banco de volta no lugar, ele é daquela sorveteria, falou? – e foi embora.
- Léo, você viu quem era?
- Vi, e daí?
- Ora, é mais um motivo pra gente não levar o banco. Como seu melhor amigo, não deixarei roubar este banco. Principalmente porque ele é pesado demais!
- Tá bom, mas que fique claro: estamos deixando o banco aqui somente porque ele é pesado demais. Certo?
- Certíssimo. Que tal agora a gente se mandar, estou ficando cansado e com sono.
- Vamos nessa, mas... antes vamos tentar entrar na festa dessa casa aí?
- Léo! – disse eu em tom de repreensão.
- Brincadeira. Mas vamos dar só uma espiadinha?
- Eu vou andando, se quiser dar a espiadinha, vá sozinho. Eu vou seguindo o caminho devagar.
- Tá, mas me espera, é só uma olhadela.

Ingenuamente acreditei que seria uma inocente olhadela. Mas, o meu melhor amigo, sempre consegue me surpreender. Ele chegou diante do portão de madeira, que estava entreaberto, carregando a garrafa da Jeanne – ícone do marco de nossa amizade – e colocou a cabeça para dentro casa; ficou assim alguns instantes, depois abriu um pouco mais o portão, deu meio passo para dentro da casa, abaixou sua bermuda e fez um “bunda lelê”.

- Ô seu moleque vagabundo, filho duma... – e outros palavrões raivosos – Vou te pegar e te matar! - Parece que alguém de dentro da casa não gostou da brincadeira. Ou melhor, muitos de dentro da casa não gostaram da brincadeira, pois, alguns marmanjos saíram enfurecidos atrás do Léo e, por conseqüência, atrás de mim também.

Corremos o mais depressa que nossas pernas cambaleantes podiam. Se eles nos pegassem seria uma chacina. Me atirei por debaixo de uma cerca de arame farpado e me escondi no mato. Logo em seguida, o Léo também pulou. Ficamos ali, quase sem respirar até que os marmanjos desistissem de nos procurar – o que, por sorte, não demorou muito. Passado o perigo, não nos agüentávamos de tanto rir.

- Maldito Ano Novo, Léo! – seguido de risadas.
- Os caras ficaram loucos da vida! – também seguido de risadas.
- Só o quê me faltava! Ser morto na noite de reveillon, porque meu melhor amigo fez um “bunda lelê”. Que belo amigo arrumei! Aahaha!
- Mas a garrafa está intacta! Aahahah!
- Vamos embora Léo. Já chega desse negócio de Maldito Ano Novo!

Assim, lá pelas cinco de madrugada, encerramos a saga do reveillon. O Léo, ainda persistiu um pouco mais no Maldito Ano Novo, ele não conseguiu entrar na sua casa e dormiu no chão da varanda.
Eu dormi tranqüilamente na cama que me era reservada na outra casa, onde todos já dormiam há muito tempo.

Apesar da noite fatigante e de ter bebido uma garrafa inteira de champanhe mais a caipirinha, na manhã seguinte acordei disposto e fui um dos primeiros a levantar. Encontrei dona Marta na mesa do café da manhã - ela sempre era a primeira a levantar – que olhou para mim e disse:

- Nossa, como você está com uma cara boa hoje!

Ah, se ela soubesse como foi o meu Maldito Ano Novo!
Ainda continua... faltam alguns dias de férias antes de eu voltar pra casa – no ap.4 e não no ap. 04!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte VII: Destino Ubatuba

Nosso destino era, e sempre foi, passar o reveillon no bar de dona Palmira, mas assim como o herói trágico tenta controlar o poderoso Destino e descobre, ao final de sua saga, que este lhe é implacável, eu e Léo, também tentávamos fugir do que nos era prometido: reveillon no bar de dona Palmira acompanhado daquela música que saia dos auto-falantes do capô de um carro. Para aturar nossa tragédia, o melhor era nos resignar e encerrar a noite gastando aqueles míseros oito reais em qualquer coisa alcoólica. Pena que a caipirinha custava cinco reais, alguém ficaria sem o drinque. Mas, nada é problema se temos o Léo, com seu grande poder de persuasão, por perto:

- Opa! Mocinha, qual seu nome mesmo?
- Elaine.
- Então, Elaine, será que você não poderia dar um descontinho pra nós, e nos vender duas caipirinhas por oito reais?
- Ah, não posso, o bar não é meu.
- Pô Elaine! Mas a dona não está aqui agora, né? Você não tem autonomia para dar este descontinho de dois reais pra gente? Dá vai!
- Então pede pra dona, ela tá logo aí atrás de você!

Era verdade, logo atrás de nós, estava ela em pessoa, o grande mito de Ubatuba! Ela, a Deusa das barraquinhas, ao lado destes dois reles mortais estava a Dona Palmira!

Dona Palmira tinha uma voz doce e calma, os cabelos longos e lisos, vestia uma saia que cobria até as canelas e um sapatinho tipo mocassim - ela era uma evangélica! Mas nada disso era capaz de intimidar meu amigo de Ano Novo, Léo:

- Opa! Com licença, dona Palmira?
- Pois não?
- Em primeiro lugar, quero lhe desejar um Maldi...
- Feliz, um Feliz Ano Novo! – Interrompi e corrigi a frase, antes que ele a completasse de maneira inapropriada para o momento.
- Era exatamente isso que eu estava dizendo, nós lhe desejamos um Feliz Ano Novo. Também gostaria de dizer que é um prazer conhecer a famosa dona Palmira, dona das melhores barraquinhas de todo o litoral paulista...

E assim, com sua lábia infalível, Léo foi enrolando dona Palmira até que ela cedeu as caipirinhas com o desconto que precisávamos.

Agora sim! Nada poderia estar melhor, a caipirinha já acalmava nossos ânimos. Eu poderia ficar ali até o amanhecer, escutando aquele som horroroso sem me incomodar. Encostei minha lombar no balcão do boteco e fiquei observando os caiçaras dançando. O Léo, que já tinha conquistado a simpatia da patroa, agora estava empenhado em xavecar a meninha que trabalhava no bar – a mesma que não queria nos dar o desconto.

De repente, uma correria. Um “pega-prá-capá”. A bebida exalou os ânimos da rapaziada. Alguém mexeu com a mulher de alguém, enquanto dançava. Gregos contra troianos. Um jovem caiçara derruba outro, não tão jovem, no chão.
- Léo olha briga, Léo! - tentava eu, chamar a atenção de meu amigo mas, ele estava tão entretido no papo com a menina, que precisei chamar a atenção dele mais umas três vezes: - Olha briga Léo! Olha a briga! Olha a briga!

Finalmente ele saiu do transe em que estava. Dona Palmira e a mocinha disseram-nos para que mantivéssemos distância da confusão. Então ficamos ali mesmo, parados e imóveis, só olhando, afinal, o trajeto para nossa fuga passava inevitavelmente pelo meio da pancadaria.

- Maldito Ano Novo, Léo! - disse eu.

Finalmente chegou a turma do “deixa-disso” que tentava separar-los, mas os dois gladiadores embriagados insistiam na briga. Não era possível saber se eles caiam no chão por causa dos golpes do inimigo, ou por causa da bebida. O tumulto parecia não ter fim.

- Olha a faca! - alguém gritou.

Outro disse:

- Vou buscar o ferro e meter uma azeitona na sua testa moleque!
- Acabou a festa! Vai todo mundo embora pra suas casas agora! - Interveio gritando, a toda-poderosa e deusa mitológica, dona Palmira, que baixou as portas do bar o mais rápido possível.

Eu e Léo ficamos do lado de fora assistindo, imóveis, à tudo. A turma só dispersou quando alguém gritou:

- A polícia tá chegando aí!

O carro de som baixou o seu capô e saiu levantando poeira. Ninguém quis ver o se era verdade o tal alarme, finalmente a confusão se dissipou.

Por alguns instantes, eu e Léo, ainda permanecemos ali imóveis, com as caipirinhas e as nossas garrafas vazias em cada uma de nossas mãos.

- Acho que já podemos ir embora – disse eu.
- Caráca, quase que a gente testemunha uma tragédia! Que doideira!
- Ouvi dizer que 2008, segundo os astros, será o ano de grandes conflitos e revoluções... acho que isto deve ter sido somente um pequeno presságio.
- É meu amigo: Maldito Ano Novo! - respondeu-me Léo, com ironia.

Demos gargalhadas aliviando a tensão e fomos embora... mas sempre tem alguma coisa no meio do caminho que adia nossa volta...

Continua no caminho de volta pra casa...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte VI: Destino Ubatuba

Depois de sermos colocados para fora da festa da casa do “Niemeyer”, eu e meu amigo Léo, ainda persistimos na busca de alguma grande festa de reveillon. Apesar da última frustração, acreditávamos que a noite ainda nos traria boas surpresas.

- Vai Dênis, pede aí pra esse gênio da garrafa pra gente achar uma festa bacana.

- Sei não, Léo. A garrafa está seca, não sei se ele vai querer atender.

- Então fala pra ele que, se nós encontrarmos a festa, a gente pode reabastecer a garrafa e aí ele poderá beber com gente também.

- É, isso parece ser um bom argumento.

Foi o que fiz, peguei minha garrafa de champanhe, que estava completamente vazia, esfreguei e fiz o pedido exatamente como meu amigo recomendou. Continuamos caminhando pela areia daquela praia e, surpreendentemente, enxergamos algumas luzes coloridas que piscavam freneticamente.

- Léo, será uma miragem ou é o nosso Oásis de reveillon?

- Ou será que são algumas lagartas psicodélicas aglomeradas na praia? Ahahaha!

Nos aproximamos cada vez mais daquelas luzes. Era inacreditável, de lá ecoava o som de uma música dançante, o som de garotas felizes e histéricas e o som de garotos que riam alto, bêbados e felizes. À medida que nos aproximávamos, sentíamos a areia sob nossos pés vibrando com a energia que emanava daquela festa. Sem nos darmos conta, enquanto andávamos, nossos pés foram se contaminando com aquela energia, assim como todo o resto dos nossos corpos: nós estávamos dançando!

- Nossa Léo, é a festa que estávamos procurando! Finalmente!

- Yuhuuu! Caráca! Será que o gênio atendeu mesmo nosso pedido? Será que finalmente vamos reabastecer nossas garrafas, nossa pança, nosso sangue? Será que finalmente teremos a nossa grande festa de Feliz Ano Novo?

Assim que chegamos bem próximos do grupo que estava dançando festivamente, embalados por um DJ e pelas luzes coloridas que iluminavam aquele pequeno pedaço de areia, como se ali fosse a pista de uma danceteria (todo o equipamento de luz e som, estavam logo ali em cima da mureta do jardim da casa que dava acesso à praia, jardim onde também estava posta uma apetitosa mesa com muitas frutas da época), um garoto gordinho que esbanjava simpatia - apesar de ter um nariz adunco e um andar “quinze pras três” - carregando em uma das mãos uma garrafa de champanhe sidra cereser e acompanhado de um amigo, deslocou-se do grupo, abriu os braços, olhou para o Léo e indo em direção dele, bradou em voz alta e bêbada:

- Hou! Não acredito! Você por aqui?

O Léo ficou sem ação, não reconhecia aquela criatura. Até olhou pra trás, para conferir se era com ele mesmo, mas o garoto continuou:

- Chega aí Augusto! Oh, Guto meu brother! Esse cara aqui (virando para seu amigo e, em seguida, sem que o mesmo percebesse, deu uma piscadela para nós) estudou comigo no ginásio. Faz a maior cara que não vejo ele... Hei, não lembra de mim? Ãh? Sou eu, o Pingüim.

Pingüim! Não poderia ter um apelido mais adequado. Em compensação, seu amigo, nada parecia com nenhum vilão de HQs, era garotão alto, moreno, corpo de surfista, cabelos castanhos e revoltos, meio bobão (diga-se de passagem), mas tão simpático quanto o Pingüim que estava querendo nos enturmar e assim nos deixar à vontade na festa.

- Augusto, este aqui é meu amigo Dênis.

Não, ele não estava se referindo a mim, mas ao seu amigo. Coincidências de Ano Novo! Então o Léo, quer dizer o Augusto... quer dizer, o Léo que se passava por Augusto, entrou no jogo do Pingüim e me apresentou também:

- Não meu caro Pingüim! Este aqui, é que é o Dênis, o meu amigo! Dênis, este é meu amigo do ginásio, o Pingüim. Pingüim, este é o meu amigo Dênis. Dênis, este é meu amigo Dênis!

- Nossa, que mundo pequeno e cheio de coincidências, hein? Quer dizer então que você é meu xará - disse o Dênis ao Dênis... Quer dizer, disse EU ao Dênis... Argh! Quanta esquizofrenia!

Depois de todos devidamente apresentados, o Pingüim e seu amigo Dênis se afastaram, nos deixando à vontade. Sentíamos vitoriosos e, em tom de comemoração disse ao meu amigo Léo, ou Augusto se preferirem:

- Conseguimos! Agora só falta abastecer as garrafas e curtir esta festa.

- É isso aí: “garrafas cheias eu quero ver rolar”! Vou ver se descubro onde tem daquelas sidras que o Pingüim estava bebendo.

Claro que a natural e inevitável cara-de-pau do Léo, agora estava muito mais à vontade. E lá foi ele, tentar descolar umas bebidas para nós entrando na casa, como se ele fosse mais um da turma desses colegiais festivos... Voltou de mãos vazias. Tudo que parecia perfeito, agora começava a desabar.

- Não deixaram eu me servir lá dentro, não.

- Ai-ai-ai! Tá indo tudo tão bem! Por que você não pede pro seu amigo do ginásio nos dar um pouco do Champanhe dele. A garrafa que ele tá segurando tá quase cheia. Quem sabe ele nos dá um pouquinho...

Mas o velho amigo de ginásio do Léo/Augusto, se desculpou e disse que não podia compartilhar da bebida de sua garrafa, pois nem era dele:

- Não posso cara, a garrafa nem é minha, é da mina ali. Só estou tomando conta... - blá, e como ele tomava!

Sem molharmos nossas goelas, ficamos por ali mesmo, apreciando a molecada que dançava; todos com seus pares, não sobraria nada para nós. Quando vimos uma única menina se afastar daquele bando de adolescentes que a cercava, o Léo/Augusto ficou louco:

- É ela, Dênis. É ela quem vai matar minha sede!

Mas a alegria dele durou pouco, pois ela logo foi interceptada por um garoto e, os dois rolaram na areia trocando amassos e beijinhos sem ter fim.

Repetimos mais uma vez nosso bordão:

- Maldito Ano Novo!

Não nos restava muitas alternativas: ou ficávamos ali chupando os dedos, ou voltávamos frustrados para nossas casas de verão.

- Espera aí Dênis... Não acredito o que encontrei em meu bolso!

- O que é, Léo?

- É a nossa redenção. Olha isso! Tenho OITO REAIS! Podemos comprar alguma bebida no Bar da dona Palmira.

- Aleluia! Vamos pra lá imediatamente!

Assim saímos em disparada, correndo pela areia da praia de Fortaleza, em direção ao bar de dona Palmira.


continua no bar de dona Palmira...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte V: Destino Ubatuba


Queríamos encontrar a origem daquela música que escutávamos lá da casa do Pax. Chegamos à praia e caminhamos alguns metros até uma clareira, onde havia um bar. Era o bar de dona Palmira, ela era dona de quase todas as casas e barraquinhas de praia daquela região. Ali estava rolando uma pequena balada. Em frente ao bar havia alguns caiçaras e uma molecada escutando um pagode que tocava muito alto. A música (se é que aquilo pede ser chamado de música) vinha de um super-equipamento de som de um carro com o capô levantado.

- Dênis, será que vem daqui o som “ao-vivo” que a gente tava escutando lá de cima?

- Ih Léo, não é que deve ser daqui mesmo! Respondi.

- Caraca! Será que não tem nenhuma outra festa rolando nesta praia?

Olhei ao redor e notei que ao lado do bar estava rolando uma grande festa numa casa enorme. Era um casarão de praia muito bonito e moderno, com uma bela piscina, era uma destas casas “com vista para o mar” de ricaços.

- Puxa, tem uma festa rolando aqui do lado, mas acho que não fomos convidados...

- Nossa! Que casa linda é essa? E tá rolando uma festa de granfino aí!

Sabem aquela vontade de fazer o ano novo ser diferente dos demais e aprontar alguma peraltice? Então, foi aí que o Léo me olhou mal intencionado por debaixo das lentes seus óculos e me perguntou:

- Vamos entrar de bicão?

- Ehehehe! Seria engraçado.

- Tô falando sério.

- Sério? ... E por que não? Mas o que a gente fala quando chegarmos lá?

- A gente começa com um: “Opa! Beleza!”. Depois vê o que acontece.

O plano era insosso e fadado ao fracasso, mas não sei por que cargas d’água achei a estratégia magnífica.

- Tá bom, então vamos. Mas vai você na frente!

Lá fomos nós, levando em punhos, as nossas garrafas de champanhe quase vazias. Entramos naquela casa pelo portão que dava acesso à praia, do portão até a piscina, onde estava rolando a festa, havia um gramadão e a passagem estava iluminada por tochas. Tudo muito suntuoso.

Percebíamos alguns olhares, vindos do arredores da piscina, acompanhavam nossa aproximação. Quando chegamos bem à beira da piscina, um senhor barrigudo e careca veio verificar o que estávamos fazendo. Logo em seguida um veio um garoto, de uns dezesseis ou dezessete anos e muito malhado, para dar cobertura ao, que parecia ser, seu avô.

- Opa! Beleza? Iniciou a conversa exatamente como tínhamos combinado anteriormente, o destemido e franzino Léo.

- Pois não? Indagou o velho com a guarda levantada.

- Amigo, a gente tava olhando a casa lá de fora e... Por acaso é esta a casa que foi projetada pelo Niemeyer?


Por incrível que pareça, o velho baixou guarda, abriu um sorriso e se transformou em um velho simpático e bonachão, assim como seu neto que, passou de Leão de Chácra para um dócil Labrador, e o velho disse:

- Não, não é esta não. Mas eu sei de que casa está falando, ela fica lá no fim da praia. Mas olha, vou te contar, não é obra do Niemeyer não. O povo daqui fala que é, mas não é. Eu conheço lá. É verdade que lembra um pouco sua arquitetura...

- Pois então, de qualquer modo, a arquitetura da sua casa é muito bonita. Toda aberta e suspensa. Nossa! E aquela escada central então – é admirável a cara-de-pau do meu amigo e como ele embromava o velho com essa história. Quanto a mim, eu só ficava observando e concordando, fazendo muito esforço pra não rir.

- Mas, vocês são estudantes de arquitetura é? Perguntou o bom velhinho.

- Nã-não! Quer dizer... é que trabalho com alguns desenhos – só Deus sabe o que o Léo quis dizer com isso.

- Ah, sei! Bom, se vocês...

Nesta hora, em que o bom velhinho parecia que já ia nos convidar para a festa, aparece um outro senhor, que vinha a passos firmes e duros em nossa direção. Este senhor era mais sisudo e imponente. Era versão idêntica do bom velhinho, só que magro. Ele chegou e interrompeu a conversa sem a menor cerimônia:

- Sinto muito, mas esta festa aqui é particular. O portão é logo ali.

Entendendo o recado ríspido e que não esperava resposta alguma, nos despedimos amigavelmente do velho bonachão e de seu neto. Estes nos estenderam as mãos e nos desejaram um feliz 2008. O outro senhor manteve-se um pouco distante e nem se esforçou em fazer o mesmo gesto. Quando estávamos saindo, deu pra escutar o bonachão dizendo ao sisudo:

- Eles são estudantes de arquitetura...

E assim que saímos o rapaz forte fechou o portão da casa muito discretamente.

- É Léo, parece que fracassamos na missão “bicão de festa”.

- Ah, se não fosse aquele velho sisudo... Os outros dois já estavam no papo! Estávamos quase lá, bebendo de graça e comendo caviar.

- Pois é. Que pena!

E juntos repetimos a nossa máxima do reveillon:

- Maldito Ano Novo! Ahahahahah!

Continua...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte IV: Destino Ubatuba

Começamos a subir uma rampa de cimento, eu sabia que era aquela a entrada para casa do Pax, mas não sabia o quanto precisávamos subir para chegar lá. A rampa logo virou uma escadaria, depois rampa novamente, depois escadaria e assim subíamos e subíamos...

- Cara, será que era por aqui mesmo Dênis?

- É sim, ele disse que era uma das últimas casas.

- Cara, a gente não para de subir nunca!

- É, já tô cansadão. Quer voltar e ir direto para Fortaleza?

- Não, não. Já tamo aqui, não deve estar tão longe.

- A Mari – a namorada do Pax - me disse que ia deixar uma vela acesa na porta, pra sinalizar a casa deles.

Já estávamos exaustos quando vi um pequeno brilho de luz num dos degraus da escada. Não, não era a vela da Mari, era...

- Léo, olha isso que incrível!

- Que isso?

- Léo, é uma lagarta luminosa!

- Incrível! Olha as cores, verde limão e laranja.

- É uma lagarta psicodélica!

- Será que estamos delirando? O que tinha na sua garrafa hein? Ahahaha!

- Sei lá. Só sei que precisamos achar a casa do Pax.

- Pergunta pra Lagarta, ela já deve ter visto o Pax por aqui.


- Ótima idéia! Uma Lagarta, assim tão descolada, deve saber de tudo que se passa por estas escadarias. Com licença dona Lagarta, eu e meu amigo aqui, estamos procurando um outro amigo. Ele se chama Pax e alugou uma casa de temporada no alto deste morro, mas não conseguimos ainda encontrar.

A Lagarta nos fitou admirada, afinal não é todo dia que humanos puxam conversa com lagartas. Então com sua antena apontou em direção aos céus e disse.

- É por ali! Mas as escadas não vão ajudar vocês.

- Ih Dênis, essa Lagarta tá viajando, acho que ela entendeu que estamos procurando a Paz e não o Pax. Que Lagarta mais burra!

- Não fale assim, ela pode se ofender. Sabe-se lá como uma Lagarta enfurecida pode reagir a insultos.

- É, tem razão. Desculpe-me dona Lagarta Psico, acontece que já estamos exautos de tanto subir e... Ei, ei, ei! Olha ali Dênis, uma luz. É uma casa! Será que não é aquela?

O Léo apontou em direção a uma casa há poucos metros de onde estávamos.

- Pode ser. Vamos chamar pelo Pax.

E nós dois, gritamos em uníssono:

- Pax! Paaaaax! Paaax!

A Lagarta balançou a cabeça com desdém, como se dissesse “nã-nã-nã-não!”. E nós começamos a andar em direção a tal casa. Sem perceber, ao primeiro passo, acidentalmente o Léo pisa na Lagarta, esmagando-a. Como um tubo de tinta, de seu corpo saiu uma gosma colorida fosforescente. Eca, que coisa nojenta!

- Ai, Dênis! Maldito Ano Novo! Eu matei a Lagarta Psico!

- Caramba! Vamos logo, deixa isso pra lá. Ela era apenas uma Lagarta Psicodélica falante. Vamos logo encontrar o Pax, antes de nos encrencarmos mais. Será que é esta casa mesmo?

E mais uma vez, gritamos em uníssono:

- Pax! Paaaaax! Paaax!

Porém ninguém respondeu, devia ser mais acima. Largamos o corpo da lagarta esmagado na escadaria e continuamos subindo, já ignorando o fato ocorrido. Subíamos sempre gritando o nome do Pax, repetidas vezes e intercalando com gargalhadas, pois parecia que nosso chamado era inútil.

- Paaaaaax! Ô Pax!

Mais alguns goles em nossas garrafas e algumas galgadas acima, finalmente ouvimos a voz de Pax. Nunca a voz do Pax me pareceu tão reconfortante:

- Hei! É aqui!

Enfim conseguimos encontrar a casa do Pax.


- Foi o filho do Paulo quem escutou vocês chamarem. Disse que parecia que tinha alguém gritando meu nome. Mas acho que ele é meio maluquinho, ouve vozes. Outro dia disse que conversou com uma lagarta na escadaria. Ahahah! Pode? De qualquer forma, dei um pouco de crédito pra ele agora, sabia que vocês viriam. Se não fosse ele ninguém aqui tinha ouvido nada!

Eu e Léo nos olhamos, e concordamos em não tocar mais no assunto da Lagarta.

- Éramos nós mesmos, Pax. Respondi. Olha, nós viemos aqui só pra te desejar um Maldito Ano Novo!

Entramos na casa e ficamos, por um bom tempo, sentados na varanda apreciando a vista maravilhosa. Tomamos algumas doses da Boazinha e fizemos duas caipirinhas para refrescar.

Explicamos a teoria do “Maldito Ano Novo” - a qual foi aprovada pelo Pax. E, quando questionamos qual era a validade do Feliz Ano Novo, o Pax nos deu a melhor resposta que poderíamos encontrar:

- Ora, o prazo de validade do “Feliz Ano Novo” termina junto com a queima os fogos!

- Elementar meu caro Pax! Comentava Léo, diante da brilhante resposta.

Encerramos nossa visita depois de esvaziar três quartos da Boazinha. E nos preparamos para descer a ladeira em busca dos festejos na areia da praia Fortaleza.

- Vamos Léo, é só descer a ladeira e ir atrás do som desta música que não para de tocar lá na praia.

- É, acho que ainda deve estar rolando algum show por lá. Vamos nessa!

A descida foi mais tranqüila, sem larvas ou insetos psicodélicos falantes. O Pax nos emprestou uma lanterna e o caminho clareou para nós. Para nós e para um casal que pensou que, naquela ladeira escura, ninguém passaria para atrapalhar o caloroso namoro em frente ao portão de uma casa. Ao perceberem nossa lanterna e a algazarra que fazíamos - pois até para descer a ladeira gritávamos o nome do Pax - a moça fechou os botões de sua blusa, enquanto o rapaz abotoava as calças, e entraram na casa em que estavam em frente. Nós continuamos a descer a ladeira; rumo à praia, em busca de alguma grande festa psicodélica de reveillon.

Continua…