quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte III: Destino Ubatuba


Noite de reveillon. Na Praia Brava, em Ubatuba, dava pra ver os fogos de artifícios que estouravam na outra praia, ao lado. Também se podia ver os fogos que estouravam na praia do Lázaro, logo à frente. Algumas dezenas de pessoas contemplavam as queimas de fogos e comemoravam a passagem do ano. Feliz 2008!

Eu carregava uma Champanhe argentina “Luxo’s” prata. Uma bela garrafa abalonada que parecia a garrafa da Jeanne, o gênio. Com a garrafa na mão e olhando no mar o horizonte iluminado pelos fogos, pulei as sete ondinhas! Embalado pela cantoria dos demais festeiros em: “Adeus ano velho, feliz ano novo...”, pedi sorte em 2008, paz, dinheiro e saúde. Fiz o mesmo pedido ao gênio da garrafa que eu carregava; dei meu primeiro gole e, como se uma cortina se desvendasse, olhei tudo ao meu redor. Vi muitas pessoas de branco, como eu, umas felizes e cantando, outras só cantando, outras caladas. Vi casais dando beijos apaixonados, fazendo promessas de fidelidade e dias felizes; vi outros casais, mais introspectivos, outros brigando, outros fazendo as pazes e vi outros casais que nasciam naquele mesmo instante. Vi famílias unidas, grupos de amigos eufóricos; vi algumas pessoas desgarradas de qualquer grupo. Vi pessoas lançando ao mar oferendas a Iemanjá; vi grupos fazendo orações com as mãos dadas e vi outros grupos tentando contato com o cosmo e seus ETs. E, sobretudo, me vi só diante daquela imensidão do mar.

Sempre tive um pouco de aversão aos festejos de ano novo. As pessoas saem às ruas de branco, felizes e festivas, e em um passe de mágica o mundo fica perfeito e um Feliz Ano Novo surge. Blá! O fato é que nada muda no ano seguinte!


Saí do mar para cumprimentar meus amigos que estavam na areia. Mas todos já estavam voltando para as casas com suas lanternas nas mãos ou auxiliados pela fraca luz de seus celulares – era preciso atravessar uma pequena trilha na mata até o vilarejo onde estávamos instalados. Ainda havia aquela lentilha e aquele peixe para terminar de comer.

Após cumprimentar algumas pessoas e trocar goles das diversas garrafas de champanhe, que cada um carregava, percebi que a festa por ali já tinha terminado, era preciso debandar para outra praia. Fui atrás das luzes das lanternas, pois senão eu teria que passar pela trilha na escuridão. No caminho encontrei o Léo, que é irmão da Angélica de Franca, amigos da Manu. Percebi que ele também estava a fim de continuar a festejar o ano que nascia, e eu precisava afogar o ano que passou. Olhei para ele, estendi minha mão e disse em tom de brincadeira:

- Léo, um Maldito Ano Novo pra você! Desejo guerra, doença e muita pobreza!

O Léo, que é um cara muito bem humorado, logo caiu em gargalhadas:


- Ahahaha! Como é que isso, Dênis?

- Maldito Ano Novo! Muita guerra, doença e muita pobreza pra você!

- Caráca! Ahahaha!

- Esse negócio de desejar “Feliz Ano Novo” não tá com nada - justifiquei-me -, quando desejamos “Feliz Ano Novo”, a felicidade acaba logo. Agora, se desejarmos o inverso, qualquer coisinha boa que acontecer durante o ano, será motivo de grande felicidade. Não concorda?


- Ah, essa é boa, concordo plenamente.


- Agora me responda: qual é a validade dos votos de “Feliz Ano Novo”?

O Léo ficou intrigado, só intuía que a validade era curta, mas quão curta?


- Dênis, é o seguinte: vamos descobrir isso lá na praia da Fortaleza - uma praia ao lado da qual estávamos. Parece que lá vai rolar um show com música ao-vivo, banda e sei lá mais o quê. Topas?


- Boa idéia! Podemos aproveitar e passar na casa onde o Pax está, e desejar pra ele também um “Maldito Ano Novo”, ahahah!

- Tá bom, mas preciso pegar uma grana lá na casa.

- Não, deixa pra lá! Já temos nossas garrafas de champanhe e o Pax está com uma garrafa de pinga Boazianha esperando por nós.

- Cê acha que não precisa então, é?

- Acho!


- Tá certo, então vamos nessa! Aliás, que garrafa bacana essa, hien? Parece a garrafa da Jeanne!

- Tem razão. Faz um pedido e toma um gole! Ehehe!

Lá fomos nós, cada um com uma garrafa na mão. O Pax estava em uma casa na praia da Fortaleza, só que no alto do morro. Era necessário subir uma ladeira estreita e íngreme naquela escuridão e só tínhamos o auxílio da luz de meu celular. Um pouco antes de encontrarmos a entrada da ladeira que nos levaria até o Pax, vinham em nossa direção três garotas. O Léo, adorando a brincadeira do “Maldito Ano Novo”, tentou usar disso como arma de sedução:


- Opa! Um Maldito Ano Novo pra vocês!

Das três meninas, duas pararam sem entender nada:


- O quê?

Continuou Léo:


- Desejo muita guerra, doença e muita pobreza pra vocês!

E ainda lançou um sorriso cafajeste para elas, que só falavam em coro:

- Quê?

- Vocês sabem qual é o prazo de validade do “Feliz Ano Novo”? Insistia o Léo.

- Ãh?


A terceira menina que estava mais adiante, na retaguarda, ao perceber o lance, logo chamou a atenção de suas colegas:


- Ei gente, anda! Não dá confiança, não! É papo de bêbado!


As duas, como que obedecendo a ordem de um sargento, bateram em retirada atrás da amiga mais precavida. Droga!


- É! Maldito Ano Novo, Dênis! Ehehehe!

- Léo! Acho que essa não é a melhor maneira de abordar meninas na praia na virada do Ano. Na próxima vez, tenta o tradicional “Feliz Ano Novo”.

- Mas se não fosse aquela mandona as outras duas já estavam no papo!

- Tem razão. Mas vamos ao Pax, que minha garrafa já está secando.


Continua…

Férias do Ap.4 - Parte II: Destino Ubatuba


No dia 29 de dezembro acordei cedo, peguei minhas malas, as compras do supermercado, composta por frutas, legumes e verduras, acoplei em minhas orelhas o meu mp3 com as músicas que o Tobias tinha passado para mim e peguei a estrada com destino a Ubatuba, onde passei os últimos dias de 2007 e os primeiros dias de 2008. Fui acolhido em uma casa de temporada que a mãe da Manuela, a dona Marta Figueiredo, alugou. Lá estavam, além de dona Marta e a Manu, o Gabriel, o Daniel (irmão da Manu) e, nos dois primeiros dias que lá fiquei, mais um monte de primos e amigos (só do gênero masculino) da família Figueiredo – estes estavam sedentos por cerveja, farra e mulheres. Em uma outra casa, logo em frente à qual estávamos, uma outra família muito alegre e simpática também de Franca, assim como a família da Manu, eram os Teixeira que são velhos amigos dos Figueiredo.

Quando finalmente chegou a tão esperada noite do reveillon, nos reunimos com os Teixeira, para comemorarmos juntos a passagem do ano. Para esta ocasião, fiquei responsável pela lentilha e pelo peixe - a Manu fez a maior propaganda enganosa de mim para sua mãe, dizendo que eu era um ótimo cozinheiro, só que esqueceu de dizer que eu odeio peixe:

- Marta, a lentilha pode ficar tranqüilamente sob minha responsabilidade, mas eu não tenho a menor idéia do quê fazer com o peixe!

- Ah, a Manu disse que você é um ótimo cozinheiro!


A Manu, ouvindo a conversa, percebeu o equívoco e disse:


- Nossa Dênis! Esqueci que você não gosta muito de peixe, né?


Se ela soubesse que não acho graça nem mesmo em peixinhos de aquário...

- Isso não tem problema Manu, o problema é que eu não tenho a menor idéia do quê fazer com ele. Disse eu.

- Olha Dênis, eu garanto que seja lá o que você fizer com ele, vai ficar melhor do que se eu tentasse fazer alguma coisa com ele. Arrematou dona Marta.


Eu, sem saída, fui pedir ajuda
ao Gabriel, meu sábio conselheiro, mesmo porque ele é um ótimo garfo e o seu pai um excelentíssimo cozinheiro. O Gabriel, na certa, deveria saber como preparar um peixe.

- Ô Gabriel, por onde eu começo hein?

Mas, como diz o velho ditado: “em casa de ferreiro, espeto é de pau”. O Gabriel não tem a menor intimidade com cozinha, assim como eu não tenho com os peixes.


- Sei não.


- Mas você nuca viu seu preparar um peixe?


- Já, é claro. Ele tempera o peixe depois assa ou grelha...


- Tá, mas tempera com o quê? E esse peixe é pra grelhar ou assar?


- Ãh... É melhor você perguntar pro meu pai. Espera aí, tô ligando pra ele...

O Gabriel pegou o celular, ligou para seu pai e depois passou pra mim:


- Certo Giordano... Então é só temperar com limão, sal grosso triturado no liquidificador e um pouco de pimenta-do-reino? (...) Tá...Tá....Tá... Hun-hum... Como? (...) Bater o sal no peixe... sei... Ponho na grelha que rapidinho tá pronto, sei... Precisa embrulhar no papel alumínio?



A reposta do outro lado da linha foi categórica:


- Nãão! Precisa não.

Fiz a receita conforme as instruções de Giordano. Nos reunimos na casa onde os Teixeira estavam e, logo fui colocando os peixes na grelha da churrasqueira onde o Tiago já havia preparado o fogo. O Tiago é casado com a Angélica Teixeira, uma das melhores amigas da Manuela, e eles têm uma linda filhinha, a Flora, muito paparicada por todos naquela praia e que iria completar um aninho naquela semana mesmo.


- Ei Dênis, não vai embrulhar esses peixes num papel alumínio, não?

- Ah, o Giordano disse que não precisa e que rapidinho fica pronto.

Dali a pouco, passa o pai do Tiago e pergunta a mesma coisa.


- Não vão embrulhar os peixes num papel alumínio?


Como eu não conhecia a matéria, fiquei muito preocupado, pois só estava seguindo as orientações do Giordano, que não esta lá para ver os peixes na grelha. Na dúvida, tentei garantir minha boa fama de cozinheiro e joguei toda a responsabilidade para o pai do Gabriel.

- Eu não tenho a menor idéia de como se faz um peixe, só estou seguindo a receita que o pai do Gabriel me passou hoje por telefone. E ele me disse que não precisava de papel alumínio. Mas, se vocês estão falando que precisa, eu acredito.

- Precisa sim, senão vai grudar tudo na grelha e não vai dar pra tirar os peixes daí. Disse o pai do Tiago.

Dito isso e olhando para os peixes naquela grelha, tentei levantar um dos peixes, para ver se ele estava grudando mesmo... Claro, as escamas já estavam começando a grudar e se não salvássemos os peixes logo... ai-ai-ai! O Tiago foi correndo arrumar o papel alumínio e cuidadosamente tiramos, um a um, cada peixe da grelha, que já estava muito quente. Agora sim, era só esperar assar e ver se o tempero estava no ponto certo.



La Valse d'Amelie

Enquanto os peixes terminavam de assar, a mesa já estava repleta de comida (incluindo a minha lentilha) para as comemorações. Dona Marta sugeriu que fizéssemos uma roda, onde cada um fez seus votos para 2008, depois pegou seu acordeom e começou a tocar para que cantássemos e dançássemos.

Nesse meio tempo, o peixe assou perfeitamente envolto ao papel alumínio. Já era hora de degustarmos - antes que virasse o ano, pois queríamos acompanhar os fogos na areia da praia. Para o meu paladar, a lentilha que preparei, faltou um temperinho a mais, achei-a sonsa, porém, ninguém reclamou. O peixe... Bom, o peixe eu não saberia muito dizer, afinal não sou um bom apreciador deste prato, mas todos elogiaram. Dividi os créditos com o Tiago e seu pai, afinal foram eles que salvaram o coitado. Mas no fundo achei que o peixe ficou salgado demais.

Para tirar a dúvida, fui consultar o especialista em degustação, o sempre sincero e sábio conselheiro, Gabriel:


- O que achou do peixe, hein?

- Não ficou bom não! Ficou muito salgado e o tempero não estava no ponto... ah, e a lentilha também estava bem sonsa!

Bem, embora eu esteja completamente de acordo com o Gabriel, achei melhor não estender o assunto, apenas concordei e me preparei para descer à praia para ver os fogos. Espero que este desastre culinário não seja um presságio do ano que vai nascer!


Continua…

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Férias do ap.4 - Parte I: Destino Bragança Paulista

Final de ano, me preparo para viajar: abro meu guarda-roupa, encho a mala com roupas que na maioria não usarei no neste verão (por segurança, sempre carrego na mala um agasalho moleton, uma calça jeans e aquele sleep, que comprei nos Alpes Suiços). Levo todos meus pares de meia e todas minhas cuecas, inclusive aquela que reservei especialmente para virada do ano. Fecho todos os armários, desligo o bico do gás, deixo a geladeira zerada e desligada, as janelas bem fechadas, tranco a porta frente do ap. 4, que confiro 7 vezes antes de partir... Pronto! Malas no carro, eu no carro, combustível no carro! Agora é pé na estrada!

Parecia uma fuga louca e desenfreada. Eu fugindo desta cidade caótica e estressante, onde tenho muitos amigos e ao mesmo tempo é muito comum não encontrar ninguém por meses. Meu primeiro refúgio era a casa dos meus pais em Bragança Paulista, onde costumo passar o natal (detalhe, meus pais saíram de férias, foram passar o fim de ano na casa da minha irmã na França). Mesmo sem meus pais em Bragança, fui para lá, tenho outros dois irmãos que moram lá, duas sobrinhas lindas e sou o padrinho do mais novo varão da família, o Pedrinho, um bebezão de apenas cinco meses.

Tem também a casa minha tia Bernadete, onde passei algumas tardes jogando vídeo-game com meu primo Jonas, de 14 anos e, antes de eu viajar para Ubatuba, carreguei meu MP3 com músicas que meu primo Tobias (irmão mais velho do Jonas, com 16 anos) tinha baixado no seu computador. Teve uma noite em que apareceram uns amigos do meu tio Maurão, para fazerem uma cantoria. Foi muito divertido, até gravei em meu mp3 um trecho desta seresta e tentei publicar aqui, mas como vocês podem ver algo deu errado e o player pirou, quando eu conseguir consertar o problema publico novamente o “concerto”.





Foi lá em Bragança que passei a noite de Natal, a ceia foi na casa do meu irmão Douglas, que quis inaugurar a sala da sua casa que acabara de pintar e colocar janelas, só faltava o piso – melhor assim, pois a Beatriz poderia andar com a bicicleta que ganhou do Papai Noel pela sala sem levar bronca de ninguém. Depois de cearmos, minha sobrinha Bárbara, que tem oito anos, praticamente obrigou a mim e meus primos (o Tobias e o Jonas) a jogar “topa ou não topa”, um jogo que ela ganhou de presente de natal – melhor assim, pois ela também havia ganhado um super-estojo de maquiagem e... ah, vocês não imaginam o que a Bárbara poderia fazer conosco caso ela quisesse brincar de maquiadora!


No almoço do dia 25 fui com meus primos, minha tia Bernadete e meu tio Maurão para Sumaré, na casa da minha outra tia que é a minha madrinha de batismo, a tia Célia. Estavam lá meus outros primos e suas esposas, o Vitor e a Kátia com as suas duas filhinhas bem japonesinhas, o Gustavo e a Tati e a Isabela com seu noivo Rodrigo. Também estavam lá alguns amigos da família do noivo, inclusive o padrinho de crisma do Rodrigo que preparou uma deliciosa leitoa desossada (ela parecia intacta, não dava pra entender por onde tiraram os ossos). Foi uma grande aventura grastronômica, além da saborosa leitoa desossada havia também o tradicional capeletti que minha madrinha sempre faz no natal. E para refrescar, tomei acidentalmente uma cerveja especial que estava reservada ao meu tio e padrinho Toninho, ele a tinha guardado estrategicamente na geladeira para que só ele a tomasse, pois era única, mas minha tia me deu a tal cerveja equivocadamente – e, de fato, esta cerveja era muito boa.


Neste dia, ainda fomos tomar um chá digestivo na casa do Vitor. Conhecem aquele chá amargo, o ban-chá? Pois então, se o ban-chá já é ruim sem nenhum incremento imagine este que era misturado com algum tipo de arroz... Eca! O sabor era indescritível, mas mesmo assim tomei três xícaras.


Sei que isto está parecendo redação de férias imposta pelas professoras do primário. De fato nunca escrevi uma boa história de férias quando era criança, eu odiava a obrigação de escrever sobre as férias, principalmente quando não viajava. Hoje, talvez por não ter a obrigação de escrever e por ter feito estas pequenas viagens, encontrando meus familiares ou, mais adiante quando irei contar sobre o reveillon que passei em Ubatuba com meus amados amigos e outras pessoas incríveis que conheci por lá, resolvi escrever sobre estas férias... Ou melhor dizendo, sobre este verão – pois um ator não tem férias, tem falta de trabalho!

Continua...