quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Jogatina "do presidente ao cu" - Continuação

Acompanhe o final desta história ao som desta trilha sonora. Aperte o play:




O interfone toca interrompendo o blá-blá-blá. Todos ficam estagnados e surpresos. Ninguém queria atender ao interfone que tocava insistentemente.

- Acho melhor alguém atender o interfone, pois o Dênis não está aqui dentro para atender - disse o nosso sábio conselheiro Gabriel, que dá palpite mas fica sempre na dele sem se mexer.

- Ta bom, eu atendo - ofereceu-se a também iniciante Mawá – Alô? ... Alô-alô? ... Tem alguém aí? ... Quem é?

- Oi! Sou eu, o Dênis!

- É o Dênis pessoal! O que você tá fazendo aí fora?

- É que eu vim pegar a pizza e a porta bateu. Eu vim sem a chave... aperta o botão do interfone e abre logo a porta!

- Tá bom. Mas como é que eu sei que você é o Dênis mesmo?

- Ai-ai-ai! Liga a TV e põe no canal dez, você vai ver que eu tô aqui fora fazendo tchauzinho com as pizzas esfriando em minhas mãos! Abre logo, Mawá!

- Ihihih! Eu tava brincando entra aí!

Mistério resolvido: era eu!

Fim!

Dênis Goyos

Trilha: Blues Brother Theme

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Jogatina "do presidente ao cu"

Tudo pode acontecer quando há uma jogatina no ap.4. Há certa rotatividade das pessoas que freqüentam esta mesa de jogos, não sei exatamente o por quê, mas algumas pessoas jamais voltaram.

Um caso de sumiço típico foi o da Luciana que, após inúmeras vezes ganhar a cadeira do “presidente”, desapareceu! Dizem que ela está na Europa, na Itália, fazendo curso de palhaço. Curso de palhaço! Onde já se viu alguém fazer curso de palhaço!

Sei também que a Lana, uma jovem de longos cabelos loiros e de estatura para impressionar qualquer homem só compareceu uma noite nesta mesa. Com aquela famosa sorte de iniciante ela foi “presidente” por várias rodadas e depois sumiu. Quem a trouxe foi o Allan (que não comparece com regularidade neste jogo). Na ocasião eles estavam tendo um rolinho. Após o jogo, esta pirulitona de 1,90m, desapareceu. Dizem que ela foi para a Europa junto com a Luciana, chegaram juntas na Alemanha e, não se sabe bem o por quê, se separaram. Uma para Itália e a outra para França. Parece que a Lana foi fazer um curso de bufão. Curso de Bufão! Onde já se viu uma mulher com corpo esculpido pela prática do triathlon, querer se transformar numa deformidade? A não ser que... Oh, meu Deus! A não ser que ela já tenha partido deformada para a Europa! Será que o Allan tem algo a ver com isso? Mas pelo que meus informantes internacionais disseram, nem a Scotland Yard tem notícias destas duas.

Sábado passado, depois de seis meses do último jogo, decidi promover mais um carteado. Hesitei um pouco em chamar alguns dos amigos que mais estimo, pois temo que qualquer um deles desapareça também. Infelizmente descobri que teria mais algumas baixas: o Allan estava em algum fórum na Argentina, o Bruno, estava fazendo uma “longa viagem de volta pra casa”* e a Manuela, foi para Brasília num retiro espiritual (retiro espiritual em Brasília! Que coisa mais sem sentido. Em todo caso não comentei nada com o Gabriel, que é o namorado dela). Entre as presenças confirmadas estavam o meu fiel amigo Gabriel; a lavadora de louças - que nas horas vagas também participa do carteado – Paula; Pax, um árabe que batuca em vasos de vidro; o pequeno Fernando Helmans; a pequena Nath; Colin e sua mulher Úrsula e, os iniciantes, José Roberto, uma espécie ruiva em extinção ou uma peça rara que atende pelo apelido de ZeRo, e Marina Wanaransteinbergsteig, ou simplesmente Mawá pros mais chegados.

A partida estava marcada para as 20h, sugestão do Gabriel:

- É melhor marcar às oito, porque, mesmo marcando neste horário, eles só vão chegar às nove.

Como sempre ouço os sábios conselhos de Gabriel, marquei às 20h e, claro que o próprio Gabriel chegou às 21h. A primeira a chegar foi a Paula, pois, nestas ocasiões, ela sempre me ajuda com a louça de três semanas que larguei na pia. Ela tem um par de luvas de borracha na minha cozinha que são só dela! As 19:30, para minha surpresa, chegou a Nathalia, ela nunca chega em lugar algum com antecedência – achei isso uma atitude muito suspeita! À partir das 20:30 começaram a chegar os outros convidados nesta ordem consecutivamente: Mawá, ZeRo, Gabriel, Colin e Úrsula, Pax e no final da madrugada a Mari (namorada do Pax).Minha geladeira estava abastecida de cervejas e refrigerantes, a mesa da sala munida de salgadinhos diversos (inclusive o fandangos sabor presunto. Pois é, presunto. Eu não podia perder a promoção do Pão de Açúcar, sou um cliente “mais”) e no banheiro revistas sobre ciência e filosofia, para impressionar, dois livretos de contos - sendo de um de Allan Poe outro de Agatha Christie – para distrair e um rolo de papel higiênico novo. No aparelho de som rolava uma miscelânea de músicas, sem a menor coerência de estilos, baixadas do e-mule. Tudo pronto para iniciarmos a partida. Sorteamos as posições dos jogadores e logo percebemos mais uma baixa:

- Cadê a Nath? Perguntou a Paula.

Senti os olhares em volta mesa, ninguém queria responder a pergunta, até que coloquei minha diplomacia de anfitrião em jogo:

- Pedimos pizza agora ou depois de algumas rodadas?

- Pede agora que eu tô morrendo de fome. Até a pizza chegar já fizemos pelo menos uma rodada – assim falou Gabriel.

Mais uma vez segui os sábios conselhos de meu fiel amigo e o assunto “onde está a Nathalia?” dissipou-se no ar como a fumaça de um charuto.

Na primeira rodada, tínhamos o pequeno Fernando na presidência e eu na vice-presidência. Este pequeno imperador pretendia passar muito tempo no poder e a sabedoria deste monarca sabia que agora não teria mais aliados na mesa. Tratou de bolar estratégias para bater logo e se manter no poder, pois todos queriam seu posto.

De repente o interfone toca, logo no fim da primeira rodada. Quem seria à esta hora? Fui ao interfone:

- Quem é?

- É da Tutti Pizzas!

- Ah, mas é claro, já vou mandar alguém buscar.

Sempre pego minhas encomendas na porta do prédio, não deixo que estes entregadores entrem no meu apê, afinal, nunca se sabe se eles são eles mesmos.

- Gente é a pizza, quem quer buscá-las?

Silêncio.

-Tá bom, eu mesmo vou.

Mais uma vez Gabriel aconselhou:

- Não é melhor que alguém vá junto com você? Nunca se sabe o que pode acontecer a esta hora da noite...

Porém, este fiel amigo lançou o palpite e naturalmente, não se ofereceu para ir comigo. Nem ele, nem ninguém!

Respirei fundo, juntei a grana do pessoal e fui sozinho pegar a pizza... Quando abandonei o recinto, uma conversa suspeita se instaurou:

- E a Nath, hein? - perguntou Paula mais uma vez.

- Parece que ela disse que volta - respondeu-lhe Mawá.

- Aposto que não volta! - disse categoricamente o árabe Pax.

- A pizza tá demorando - preocupava-se o sábio e esfomeado Gabriel.

- Mas quem fez os pedidos? Eu não vi ninguém ligar para o disque-pizza - levantou preocupadamente a questão o iniciante ZeRo.

O interfone toca interrompendo o blá-blá-blá. Todos ficam estagnados e surpresos. Ninguém queria atender ao interfone que tocava insistentemente.

- Acho melhor alguém atender o interfone, pois o Dênis não está aqui dentro para atender - disse o nosso sábio conselheiro Gabriel, que dá palpite mas fica sempre na dele sem se mexer.

- Tá bom, eu atendo - ofereceu-se a também iniciante Mawá – Alô? ... Alô-alô? ... Tem alguém aí? ... Quem é?


(continua ...)

*título da peça em que o Bruno está em temporada no SESC Pompéia.

por
Dênis Goyos e colaboração de Paula Nigro
foto de ZeRO
Imagem do Google

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Teste de player



Deu certo!
Há tempos que eu queria colocar um player aqui. Graças ao meu vizinho virtual ZeRo, eu consegui. O ZeRo é um cara muito gente fina, deve ser por que ele é ruivo. É por essas e outras, que lanço aqui a campanaha "preserve os ruivos". Sim, o ZeRo descobriu que nós, os admiráveis ruivos, corremos o risco de sermos extintos até 2060. Eu já mandei congelar litros de meu esperma para garantir 5 gerações!
Valeu ZeRo!

"Grindhouse (Death Proof) - Hold tight!"
A música faz parte da trilha sonora do filme do Tarantino "À prova de morte". Não sei qual é a banda, nem os autores, mas é divertida e o filme é sensacional!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Meu Bode!


O ano foi duro, poucos trabalhos lucrativos, a conta estourou e o aluguel ficou difícil de pagar. Eu tava num perrengue danado! Um amigo estava precisando de abrigo em São Paulo, por pouco tempo, só dois meses, era o tempo que eu precisava para me reerguer financeiramente. Moro sozinho neste ap.4, e não ap.04, há mais de três anos. Já me habituei ao silêncio da casa, aos cômodos vazios, à louça suja na cozinha, às roupas estendidas no varal como se fosse meu closet, à geladeira e a dispensa vazias, andar pelado, atender telefone no banheiro, entre tantas outras bizarrices da vida de um homem solteiro. Confesso, sou cheio de manias excêntricas. Mas são minhas manias e na minha casa não preciso dar satisfações a ninguém!

Enfim, aceitei a oferta do Bruno e acordamos que ele ficaria aqui por dois meses. Ele chegou exatamente no dia do meu aniversário - e que presente! - no dia dois de junho. No meio da mudança dele, eu recebia meus amigos que se espremiam entre as malas e móveis que o novo hóspede trazia para passar estes dois meses. Surpreendi-me quando seus pais pararam na frente da minha casa com o carro abarrotado de coisas, para que ele passasse aqui apenas dois meses. Trouxe até um carrinho de feira, que nunca foi usado.

As coisas por aqui sempre funcionaram bem, como já sabem diversos amigos meus defecaram em minha privada, com suas diferentes texturas, cheiros e formas. Na manhã seguinte do meu aniversário um prenúncio em minha privada: pela primeira vez encontrei-a entupida. Logo pensei que alguém poderia ter jogado papel ou qualquer coisa que amigos alcoolizados jogam em privadas alheias. Preocupado e olhando aquela água transbordando, Bruno me pergunta:

- Entope sempre?
- Nunca vi isso antes! Respondo eu.
- E agora?
- O que se há de fazer? Vou dar um jeito nisso.

Lá fui eu com um desentupidor de pia e luvas de borracha. Chuchei a água até que ela desceu. Mas no dia seguinte, antes deu ir tomar meu café da manhã, encontrei uma surpresa na privada: um cocô em forma de um kiwi inteiro e com casca - sim, kiwi, aquela fruta marrom e peludinha. Ele tava lá, no fundo, esperando pra partir, mas seu dono muito apegado não o mandou embora. Eu tive que mandá-lo água abaixo. O dono destas fezes de formato bizarro, já havia saído para trabalhar e quando voltou, não sentiu falta de nada, então achei que seria indelicado tocar no assunto, afinal, todos já esqueceram um dia de apertar a descarga, não é mesmo?

Passei a me encontrar com esse kiwi mergulhador, todas as manhãs, mas não seu dono. Quando eu chegava em casa ele já tinha saído. Era fácil de perceber se ele havia almoçado em casa, pois o cozinheiro fritava seus hambúrgueres com as janelas fechadas e era preciso usar uma lanterna para atravessar a neblina que se estendia da sala até a cozinha, impregnando os quartos também.

As vezes encontrava meu hóspede, quando eu chegava tarde em casa, cansado de uma balada ou de um trabalho que se estendeu até tarde da noite. Encontrava-o em meu quarto, sentado à mesa do computador, batendo papo no MSN. Mas logo ele desligava o computador e cedia o meu quarto. Logo que deitava pra dormir o telefone tocava, era a sua mãe que sempre ligava depois da meia noite para conversas mais longas (pois à noite as tarifas são mais em conta) e durante o dia ela ligava umas quinze vezes para conversas rápidas, mas ele não estava em casa em 50% das ligações nas quais no início eu atendia e dizia sempre

- Alô! Oi... não, nesse horário ele NUNCA está aqui, tenta no celular dele.

Não sei se não acreditava em mim, mas uma hora mais tarde o telefone tocava novamente... graças a tecnologia e ao serviço de identificação de chamadas passei a ignorar estes quinze toques diários.
Percebi que eu não iria suportar dividir por muito tempo o apê e como disse o Gabriel:

- É Dênis, o Bruno é o seu "bode"!
- Como assim?
- Você não conhece aquele conto chinês? O chinês procurou um velho sábio pois estava passando por dificuldades com a família, brigava o dia inteiro com a mulher e seus filhos só traziam problemas. Então o velho deu um bode de presente ao homem e aconselhou-o criá-lo em casa. O homem levou o bode para casa sem entender como aquilo poderia ajudá-lo. Seis meses depois encontrou o velho sábio e devolveu o presente dizendo "este bode esta acabando a mobília da minha casa, está fazendo uma sujeira danada, já comeu até as minhas roupas" e o velho perguntou "e sua família como está?" "minha família? Ah, vai bem, mas esse bode!"... Entendeu? O Bruno agora é o seu bode que caga kiwi!

De fato o Gabriel e o sábio chinês tinham razão, todos os problemas da minha vida agora era o meu hóspede. Resolvi que não queria mais nenhum problema em minha vida, o prazo de dois meses estava por terminar, só faltavam duas semanas!

Quando faltava apenas uma semana para a saideira do Bruno, percebi que não a havia nenhum movimento para a saideira. Tomei a iniciativa e foi falar com ele:

- É... o Bruno! Semana que vem termina os dois meses...
- Então Dênis, era isso que eu queria conversar com você... (imaginem o que passava pela minha cabeça neste instante: Ai!).
- Conversar?...
- É, eu queria saber se eu poderia ficar aqui mais um tempo, sei lá de repente até o fim do ano... Será que dá?

Quem me conhece sabe que eu tenho enormes dificuldades em dizer não as pessoas, sempre acabo cedendo, mas desta vez eu não poderia mais continuar com o bode na minha casa. Respirei fundo e ignorei o que ele dizia:

-Béér, bééééééér? Béééérr béér bé béééé, bééééér bé béé béér?
-NÃO! NÃO dá!

Mas ele continuou argumentando:

- Mas, bééé´bééé, béér uma semana?
- (suspiro) Tá bom, mais uma semana eu agüento!

Uma semana depois soltei o bode no mundo, ele está morando numa casa grande, dividindo com mais duas pessoas e tem quarto só pra ele. Eu fiquei com o apê todinho de volta pra mim, só meu... dias de liberdade novamente, a sala vazia só para mim, o cozinha desocupada e só com as minhas sujeiras, meu computador desocupado, o escritório sem o hóspede, o telefone não tocava mais quinze vezes por dia, só uma vez ou outra a semana inteira... só eu e o ap.4 totalmente vazio... Vazio! Vazio? ... (Ih, bateu um sentimento de profunda solidão) Gente, alguém sabe de algum bode desabrigado? 
Dênis Goyos