quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Férias do Ap.4 - Parte VIII: Destino Ubatuba

No meio do caminho tinha um banco, tinha um banco no meio do caminho... Era um banco rústico, de madeira, firme, pesado, que encantou os olhos de meu amigo:
- Olha Dênis, que banco maravilhoso!
- É realmente, um belo banco de madeira.
- Meu! Eu preciso deste banco, me ajuda levar até a casa...
Detalhe: a casa ficava a uns 700m da praia de Fortaleza; o caminho de volta pra casa, era por uma estrada cheia de curvas e sobe-e-desce. Outro porém: nós estávamos embriagados, carregando, cada um de nós, um copo de caipirinha em uma mão e, na outra, uma garrafa vazia de champanhe. Mas não foi isto que argumentei:

- Léo, cê tá louco? O ano mal começou e já vamos cometer um delito? Você está propondo assaltar este banco?
- Parceiro, isto poderá entrar pra história...
- Claro! Eis a história: “turistas são presos por assaltar um banco na noite de reveillon”!
- Isto! Imagine nossa foto estampada nos jornais, entrevistas... depois viraremos tema de livros, filmes; seremos celebridades! O nosso assalto será mais famoso que o assalto do trem Pagador! Brother, chega de passar as noites de reveillon sempre “certinho”. Tá na hora de fazer algo novo, tá na hora de transgredir as regras que nos aprisionam.
- “Transgredir regras” é que nos “aprisionam”!
- Camarada, ou você está comigo ou - em tom dramático - terei de fazer isso sozinho!
- Tá bom, tá bom! Não vou abandonar você agora. Mas pare com esta chantagem emocional. Vamos lá... Como vamos carregar isso? Ainda não terminei minha caipirinha e não vou jogar fora minha garrafa da Jeanne!
- A gente dá um jeito, meu irmão. Com uma mão carrega o banco, e com a outra a garrafa e a caipirinha.
Assim fizemos por uns vinte metros, o banco era muito pesado. Decidimos parar e descansar um pouco.

Paramos em frente a uma casa onde ainda rolava mais uma festa de reveillon e algumas pessoas entravam e saiam pelo portão de madeira.

- Olha aí amigo, mais uma festa. Pode ser nossa última chance, vamos tentar entrar?
- Não! Não Léo, já chega desta história de invadir festas que nunca darão em nada. Vamos é acabar com as nossas caipirinhas e seguir viagem!
- Ehehhe! Tava brincando! Então que tal um brinde?
- Isso sim! O triste é brindar nesses copinhos de plástico, ehehe!
- Pra isso tenho uma boa solução: é só transferir o conteúdo deste copinho para as nossas garrafas! - desta maneira brindamos ao nosso Maldito Ano Novo!

Ficamos um bom tempo sentados naquele banco onde divagamos sobre a vida; assistimos as pessoas que entravam e saiam daquela casa; falamos bobagens; devaneamos; conjecturamos; decidimos fundar um grupo de pesquisa teatral e nos tornamos melhores amigos - aquele velho e tradicional papo de bêbado:
- Dênis, de hoje em diante, você é o meu melhor amigo!
- Um brinde ao melhor amigo de 2008! Eheheh! Tenho uma idéia Léo; agora que nos tornamos melhores amigos, dou-lhe esta garrafa de presente.
- A garrafa do gênio!
- Ela simboliza nossa amizade. Enquanto ela estiver inteira, nossa amizade existirá. Se ela se quebrar... Por isso cuide bem dela.
- Cuidarei muito bem dela, meu melhor amigo! Mas ainda temos que carregar este banco.

Nesta hora, um dos caiçaras que protagonizou aquela briga no bar de Dona Palmira, estava passando, veio até nós e disse em tom ameaçador:

- Depois coloquem o banco de volta no lugar, ele é daquela sorveteria, falou? – e foi embora.
- Léo, você viu quem era?
- Vi, e daí?
- Ora, é mais um motivo pra gente não levar o banco. Como seu melhor amigo, não deixarei roubar este banco. Principalmente porque ele é pesado demais!
- Tá bom, mas que fique claro: estamos deixando o banco aqui somente porque ele é pesado demais. Certo?
- Certíssimo. Que tal agora a gente se mandar, estou ficando cansado e com sono.
- Vamos nessa, mas... antes vamos tentar entrar na festa dessa casa aí?
- Léo! – disse eu em tom de repreensão.
- Brincadeira. Mas vamos dar só uma espiadinha?
- Eu vou andando, se quiser dar a espiadinha, vá sozinho. Eu vou seguindo o caminho devagar.
- Tá, mas me espera, é só uma olhadela.

Ingenuamente acreditei que seria uma inocente olhadela. Mas, o meu melhor amigo, sempre consegue me surpreender. Ele chegou diante do portão de madeira, que estava entreaberto, carregando a garrafa da Jeanne – ícone do marco de nossa amizade – e colocou a cabeça para dentro casa; ficou assim alguns instantes, depois abriu um pouco mais o portão, deu meio passo para dentro da casa, abaixou sua bermuda e fez um “bunda lelê”.

- Ô seu moleque vagabundo, filho duma... – e outros palavrões raivosos – Vou te pegar e te matar! - Parece que alguém de dentro da casa não gostou da brincadeira. Ou melhor, muitos de dentro da casa não gostaram da brincadeira, pois, alguns marmanjos saíram enfurecidos atrás do Léo e, por conseqüência, atrás de mim também.

Corremos o mais depressa que nossas pernas cambaleantes podiam. Se eles nos pegassem seria uma chacina. Me atirei por debaixo de uma cerca de arame farpado e me escondi no mato. Logo em seguida, o Léo também pulou. Ficamos ali, quase sem respirar até que os marmanjos desistissem de nos procurar – o que, por sorte, não demorou muito. Passado o perigo, não nos agüentávamos de tanto rir.

- Maldito Ano Novo, Léo! – seguido de risadas.
- Os caras ficaram loucos da vida! – também seguido de risadas.
- Só o quê me faltava! Ser morto na noite de reveillon, porque meu melhor amigo fez um “bunda lelê”. Que belo amigo arrumei! Aahaha!
- Mas a garrafa está intacta! Aahahah!
- Vamos embora Léo. Já chega desse negócio de Maldito Ano Novo!

Assim, lá pelas cinco de madrugada, encerramos a saga do reveillon. O Léo, ainda persistiu um pouco mais no Maldito Ano Novo, ele não conseguiu entrar na sua casa e dormiu no chão da varanda.
Eu dormi tranqüilamente na cama que me era reservada na outra casa, onde todos já dormiam há muito tempo.

Apesar da noite fatigante e de ter bebido uma garrafa inteira de champanhe mais a caipirinha, na manhã seguinte acordei disposto e fui um dos primeiros a levantar. Encontrei dona Marta na mesa do café da manhã - ela sempre era a primeira a levantar – que olhou para mim e disse:

- Nossa, como você está com uma cara boa hoje!

Ah, se ela soubesse como foi o meu Maldito Ano Novo!
Ainda continua... faltam alguns dias de férias antes de eu voltar pra casa – no ap.4 e não no ap. 04!

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