segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Meu Bode!


O ano foi duro, poucos trabalhos lucrativos, a conta estourou e o aluguel ficou difícil de pagar. Eu tava num perrengue danado! Um amigo estava precisando de abrigo em São Paulo, por pouco tempo, só dois meses, era o tempo que eu precisava para me reerguer financeiramente. Moro sozinho neste ap.4, e não ap.04, há mais de três anos. Já me habituei ao silêncio da casa, aos cômodos vazios, à louça suja na cozinha, às roupas estendidas no varal como se fosse meu closet, à geladeira e a dispensa vazias, andar pelado, atender telefone no banheiro, entre tantas outras bizarrices da vida de um homem solteiro. Confesso, sou cheio de manias excêntricas. Mas são minhas manias e na minha casa não preciso dar satisfações a ninguém!

Enfim, aceitei a oferta do Bruno e acordamos que ele ficaria aqui por dois meses. Ele chegou exatamente no dia do meu aniversário - e que presente! - no dia dois de junho. No meio da mudança dele, eu recebia meus amigos que se espremiam entre as malas e móveis que o novo hóspede trazia para passar estes dois meses. Surpreendi-me quando seus pais pararam na frente da minha casa com o carro abarrotado de coisas, para que ele passasse aqui apenas dois meses. Trouxe até um carrinho de feira, que nunca foi usado.

As coisas por aqui sempre funcionaram bem, como já sabem diversos amigos meus defecaram em minha privada, com suas diferentes texturas, cheiros e formas. Na manhã seguinte do meu aniversário um prenúncio em minha privada: pela primeira vez encontrei-a entupida. Logo pensei que alguém poderia ter jogado papel ou qualquer coisa que amigos alcoolizados jogam em privadas alheias. Preocupado e olhando aquela água transbordando, Bruno me pergunta:

- Entope sempre?
- Nunca vi isso antes! Respondo eu.
- E agora?
- O que se há de fazer? Vou dar um jeito nisso.

Lá fui eu com um desentupidor de pia e luvas de borracha. Chuchei a água até que ela desceu. Mas no dia seguinte, antes deu ir tomar meu café da manhã, encontrei uma surpresa na privada: um cocô em forma de um kiwi inteiro e com casca - sim, kiwi, aquela fruta marrom e peludinha. Ele tava lá, no fundo, esperando pra partir, mas seu dono muito apegado não o mandou embora. Eu tive que mandá-lo água abaixo. O dono destas fezes de formato bizarro, já havia saído para trabalhar e quando voltou, não sentiu falta de nada, então achei que seria indelicado tocar no assunto, afinal, todos já esqueceram um dia de apertar a descarga, não é mesmo?

Passei a me encontrar com esse kiwi mergulhador, todas as manhãs, mas não seu dono. Quando eu chegava em casa ele já tinha saído. Era fácil de perceber se ele havia almoçado em casa, pois o cozinheiro fritava seus hambúrgueres com as janelas fechadas e era preciso usar uma lanterna para atravessar a neblina que se estendia da sala até a cozinha, impregnando os quartos também.

As vezes encontrava meu hóspede, quando eu chegava tarde em casa, cansado de uma balada ou de um trabalho que se estendeu até tarde da noite. Encontrava-o em meu quarto, sentado à mesa do computador, batendo papo no MSN. Mas logo ele desligava o computador e cedia o meu quarto. Logo que deitava pra dormir o telefone tocava, era a sua mãe que sempre ligava depois da meia noite para conversas mais longas (pois à noite as tarifas são mais em conta) e durante o dia ela ligava umas quinze vezes para conversas rápidas, mas ele não estava em casa em 50% das ligações nas quais no início eu atendia e dizia sempre

- Alô! Oi... não, nesse horário ele NUNCA está aqui, tenta no celular dele.

Não sei se não acreditava em mim, mas uma hora mais tarde o telefone tocava novamente... graças a tecnologia e ao serviço de identificação de chamadas passei a ignorar estes quinze toques diários.
Percebi que eu não iria suportar dividir por muito tempo o apê e como disse o Gabriel:

- É Dênis, o Bruno é o seu "bode"!
- Como assim?
- Você não conhece aquele conto chinês? O chinês procurou um velho sábio pois estava passando por dificuldades com a família, brigava o dia inteiro com a mulher e seus filhos só traziam problemas. Então o velho deu um bode de presente ao homem e aconselhou-o criá-lo em casa. O homem levou o bode para casa sem entender como aquilo poderia ajudá-lo. Seis meses depois encontrou o velho sábio e devolveu o presente dizendo "este bode esta acabando a mobília da minha casa, está fazendo uma sujeira danada, já comeu até as minhas roupas" e o velho perguntou "e sua família como está?" "minha família? Ah, vai bem, mas esse bode!"... Entendeu? O Bruno agora é o seu bode que caga kiwi!

De fato o Gabriel e o sábio chinês tinham razão, todos os problemas da minha vida agora era o meu hóspede. Resolvi que não queria mais nenhum problema em minha vida, o prazo de dois meses estava por terminar, só faltavam duas semanas!

Quando faltava apenas uma semana para a saideira do Bruno, percebi que não a havia nenhum movimento para a saideira. Tomei a iniciativa e foi falar com ele:

- É... o Bruno! Semana que vem termina os dois meses...
- Então Dênis, era isso que eu queria conversar com você... (imaginem o que passava pela minha cabeça neste instante: Ai!).
- Conversar?...
- É, eu queria saber se eu poderia ficar aqui mais um tempo, sei lá de repente até o fim do ano... Será que dá?

Quem me conhece sabe que eu tenho enormes dificuldades em dizer não as pessoas, sempre acabo cedendo, mas desta vez eu não poderia mais continuar com o bode na minha casa. Respirei fundo e ignorei o que ele dizia:

-Béér, bééééééér? Béééérr béér bé béééé, bééééér bé béé béér?
-NÃO! NÃO dá!

Mas ele continuou argumentando:

- Mas, bééé´bééé, béér uma semana?
- (suspiro) Tá bom, mais uma semana eu agüento!

Uma semana depois soltei o bode no mundo, ele está morando numa casa grande, dividindo com mais duas pessoas e tem quarto só pra ele. Eu fiquei com o apê todinho de volta pra mim, só meu... dias de liberdade novamente, a sala vazia só para mim, o cozinha desocupada e só com as minhas sujeiras, meu computador desocupado, o escritório sem o hóspede, o telefone não tocava mais quinze vezes por dia, só uma vez ou outra a semana inteira... só eu e o ap.4 totalmente vazio... Vazio! Vazio? ... (Ih, bateu um sentimento de profunda solidão) Gente, alguém sabe de algum bode desabrigado? 
Dênis Goyos

5 comentários:

Paula Nigro disse...

Mas cocô de bode tem tamanho de azeitona e não de kiwi...
Deco, você foi "tagueado" no meu blog. Vai lá ver e depois faz igual.
Paciência. O Weno me meteu nessa e eu não podia te deixar de fora...
Um beijo.

ZeRo disse...

Não sabe o que estou testando? hahahaha. As cores do meu player não te lembram algum blog conhecido? =)
Preciso do seu e-amil e da Paula... para mandar o processo da player... please manda para emaildozero@gmail.com

Unknown disse...

Oi, Dênis! VAmos ver se dá certo este comentário. Nunca consigo. Suas crônicas estão muito boas, leves e soltas. Estou gostando muito. Bjs, Marília

Anônimo disse...

Nunca soube dos Kiwis ! Não fique de bode.. ele não te encomoda mais..

Dênis Goyos disse...

Eheheh! Não é pra levar á sério, exagerei nesta historinha aqui só pra fazer graça. O kiwi foi só uma vez, pq a descarga tava sem pressão.
Você foi um exelente inquilino e sempre muito bom amigo!
Valeu!
Abraços!

traduzindo pra o bodês:

Bhéhéhéhé!

bééééér, béér bé béééér! bééééér, béér bé béééér!bééééér, béér bé béééér!bééééér, béér bé béééér!bééééér, béér bé béééér!
Bér!
Bé!